terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Mulheres têm mais problemas de visão

Vaidade e oscilações hormonais seriam algumas justificativas para clarear esse panorama preocupante, constata uma novíssima pesquisa. Entenda de que forma esses e outros fatores ameaçam a saúde ocular feminina.

As mulheres são mesmo o sexo frágil — pelo menos no quesito visão. Os números deixam isso às claras. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que elas representam dois terços dos indivíduos cegos no mundo. E a saúde ocular das brasileiras é um reflexo das estatísticas globais. Foi o que constatou uma pesquisa do fabricante de lentes Transitions Optical do Brasil. Para esmiuçar as razões dessa discrepância entre gêneros no país, a empresa encomendou um levantamento sobre problemas visuais ao instituto americano Healthy Sight. Foram entrevistados 1 007 brasileiros, com idade entre 18 e 59 anos, e chegou-se à conclusão de que, aqui, as mulheres também têm olhos mais delimedicina cados em diversos aspectos. Para início de conversa, 57% delas contra 47% deles afirmam ter algum distúrbio oftalmológico.

“As alterações hormonais, especialmente após a menopausa, estão por trás de quadros como a síndrome do olho seco”, exemplifica o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, em Campinas, no interior paulista (veja o quadro acima). De fato, esse distúrbio, caracterizado pela rápida evaporação das lágrimas que umidificam a córnea, foi uma reclamação recorrente entre as entrevistadas na pesquisa. Sem falar que, em geral mais vaidosas, as mulheres apelam com maior frequência para dietas radicais, que prejudicam a nutrição das células oculares, muito sensíveis a todo tipo de carência. E são mais adeptas de lentes de contato do que de óculos. “Vale lembrar que o uso inadequado dessas lentes pode acarretar problemas”, completa Queiroz Neto.

Outra descoberta curiosa relatada no estudo foi a de que 60% das mulheres sofrem de catarata, enquanto na ala masculina a incidência é de 40%. O oftalmologista Paulo Schor, da Universidade Federal de São Paulo, formulou uma hipótese: “O estresse do dia a dia e o tabagismo, que aumenta entre elas, favorecem a produção de radicais livres, compostos que danificam o cristalino, lente que se torna opaca na catarata”, diz. “Também devemos considerar a maior expectativa de vida feminina, já que o envelhecimento é inimigo da visão”, conclui.

A visão não é exceção — os hábitos saudáveis que ajudam a manter o corpo funcionando em harmonia também fazem um bem danado aos nossos olhos. Assim, para quem fuma, o conselho é abolir o cigarro de uma vez por todas. “A fumaça é uma fonte de radicais livres, que danificam os vasos sanguíneos, prejudicando a circulação nas células oculares”, explica o oftalmologista Canrobert de Oliveira, do Hospital Oftalmológico de Brasília. E isso tudo acelera o aparecimento de doenças como a catarata e a degeneração macular relacionada à idade. Os malefícios não param por aí. “Associado ao álcool, o cigarro exerce um efeito bastante tóxico no nervo óptico”, continua Oliveira. Para piorar ainda mais, o oftalmo afirma que o tabagismo agride os músculos dos olhos, responsáveis pela focalização das imagens. Em outras palavras, dá um empurrão para a incidência de distúrbios refrativos. E, sim, as mulheres estão fumando mais.

Quem toma anticoncepcional, então, precisa ter cuidado redobrado. A combinação entre as baforadas e o medicamento potencializaria a coagulação sanguínea e, embora não haja confirmação científica, alguns especialistas suspeitam que isso possa facilitar a formação de pequenos trombos nos vasos dos olhos, o que, aos poucos, danificaria a retina, onde são formadas as imagens.

Beleza com saúde
Itens de maquiagem e cremes para o rosto devem ser escolhidos com cautela, principalmente pelas usuárias de lente de contato. O motivo é simples: aplicados quase sempre próximos aos olhos, eles podem provocar alergia, irritação ou ressecamento. “O ideal é optar por produtos hipoalergênicos. No caso de rímeis, dê preferência aos que não sejam à prova d’água, porque são difíceis de remover e deixam resíduos”, ensina Denise. Evite também compartilhar pincéis e afins. Esses instrumentos são abrigos de fungos e bactérias causadores de conjuntivites e outras infecções. Na hora de limpar o rosto, utilize produtos específicos para tirar a maquiagem ou xampus desenvolvidos para bebês, que são mais neutros.

Se os óculos não lhe caem bem à aparência, você pode, sim, recorrer às lentes de contato, desde que siga à risca as orientações do seu oftalmologista. “Isso significa respeitar os intervalos de descanso recomendados, o número de horas pelas quais o acessório pode ser usado com segurança, escolher a marca que garanta melhor tolerância para seu caso, retirá-lo na hora de dormir e fazer a higienização adequada”, ensina Newton Kara José. Ignorar essas precauções pode acarretar consequências sérias, como lesões na córnea ou contaminação por micro-organismos.

Bronzeado seguro
O mesmo cuidado que a gente tem com a pele na hora de se estirar ao sol deve ser dedicado aos olhos. “A exposição aos raios ultravioleta aumenta em até 60% os riscos de uma pessoa desenvolver catarata”, avisa Leôncio Neto. Sem falar que fomenta a degeneração macular. A melhor forma de se proteger, portanto, é investir em um bom par de óculos com proteção UV, é claro.

Alimentação em total equilíbrio
Aderir a dietas muito restritivas para recuperar a cintura fina pode ter um preço alto para a visão. As células oculares precisam ser bem nutridas para se multiplicarem e trabalharem a contento. “O ômega-3 dos peixes e da linhaça é importante para a produção de lágrimas que umidificam a córnea e para combater inflamações”, exemplifica Queiroz Neto. Já a luteína, substância presente nas folhas verde-escuras, tem, entre outras funções, a de combater os radicais livres. Ou seja, uma alimentação balanceada é fundamental para contemplar esses e outros nutrientes indispensáveis.

Os inibidores de apetite são outro perigo. Só podem ser consumidos com prescrição médica — e olhe lá. “Alguns podem aumentar a pressão intraocular e, consequentemente, o risco de glaucoma”, alerta Paulo Schor. O resumo de tudo isso é que qualidade de vida e proteção são as palavras-chave para ver o mundo com os olhos sempre saudáveis.

Olhar vigilante
Antecipe-se à agressão das doenças oculares. “Após os 40, consulte um oftalmologista ao menos uma vez a cada dois anos”, aconselha Queiroz Neto. Nessa avaliação, o especialista pode solicitar uma medição da pressão intraocular para controle de glaucoma — mal mais comum no sexo feminino. O checkup ocular inclui também um exame de fundo de olho, que analisa a integridade de suas estruturas, e um de papila do nervo óptico, para averiguar se está tudo ok com esse mensageiro de informações visuais para o cérebro. Mulheres diabéticas, hipertensas, que se submeteram a quimioterapia ou têm histórico familiar de enfermidades nos olhos devem começar esse acompanhamento o quanto antes. Saúde Abril