sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O que você precisa saber sobre trasntornos alimentares

A preocupação exagerada com a imagem pode levar a distúrbios como bulimia e anorexia, situações que geram compulsão ou rejeição à comida e causam, sempre, muito sofrimento.

A mania de trocar um prato de comida por um copo de bebida como certa personagem de novela anda fazendo na TV está entre as mais recentes manifestações de transtorno alimentar – ou de doença ligada a ele. Os especialistas acreditam que uma predisposição genética somada a fatores diversos, como a ditadura do “quanto mais magro, melhor”, são alguns dos gatilhos desse tipo de distúrbio, que geralmente não dá as caras sozinho: um quadro depressivo geralmente acompanha 70% dos casos. Em tese, problemas com o cardápio têm se firmado como sintomas de uma sociedade rigorosamente focada na aparência e perfeição.

Nos últimos tempos, os distúrbios até então restritos a mulheres – que sempre carregaram o fardo de ser belas a qualquer custo e agora de ser belas e bem-sucedidas – arrebatam também o sexo oposto. De acordo com a instituição norte-americana National Association of Anorexia Nervosa and Associated Eating Disorders (Anad), uma entre dez vítimas é do sexo masculino, o que significa centenas de milhares de homens. Tais evidências pedem um tratamento que combine áreas da psiquiatria, psicoterapia, endocrinologia e nutrição e, se necessário, o uso de antidepressivos. Saiba mais sobre os transtornos alimentares e suas novas versões:


ANOREXIA
O horror ao peso e a obsessão por emagrecer são ideias fixas de quem padece com esse distúrbio. Mesmo vendo-se esquelética diante do espelho, a pessoa não se sente suficientemente magra. Atletas, que precisam estar em forma para competições, e atrizes e modelos, cuja imagem é o cartão de visita, são exemplos de perfis vulneráveis. Mas a doença é ainda um estigma entre muitas mulheres a partir dos 15 anos de idade. Elas fazem longos jejuns, exercitam-se sem parar, restringem sua alimentação a alface e grãos e, num ataque súbito de fome, comem além da conta para depois eliminar o que engoliram com vômitos forçados ou laxantes. Esse caso específico se refere ao tipo mais comum do problema, a chamada anorexia bulímica.

Já na sua outra versão, a anorexia restritiva, a pessoa vive à base de poucas calorias e água, mas sem ataques de compulsão. Estágios avançados da doença causam desnutrição, com perda média de 15 quilos, queda de cabelos e falha de no mínimo três períodos menstruais. No final das contas, a carência de nutrientes é tamanha que os ossos da anoréxica ficam fragilizados, quase à mercê de um quadro de osteoporose. Segundo a psiquiatra Angélica Claudino Azevedo, coordenadora do Programa de Orientação e Assistência aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo (Proata/Unifesp), a família é essencial no tratamento. “Sozinhas, as pacientes não se dão conta da dimensão do problema”, alerta. As estatísticas revelam que 20% dos casos de anorexia sem tratamento acabam em morte – um número assustador.

BULIMIA
As vítimas preferenciais desse transtorno alimentar têm por volta de 20 anos e elas até toleram uma protuberância aqui e acolá na região do abdômen. “Existe entre elas maior aceitação de uma forma física dentro da normalidade”, explica Angélica. No entanto, é mais difícil diagnosticar o problema nessas jovens. A razão é simples: elas são capazes de engolir 3 mil calorias em poucos minutos praticamente sem mastigar para, logo em seguida, correrem para o banheiro e vomitarem tudo. Em outras palavras, a bulimia é um transtorno que acontece entre quatro paredes. Por esse motivo, ela acaba se tornando uma doença crônica. “Como se sentem bastante envergonhadas e culpadas com sua falta de controle, é comum essas pacientes demorarem a procurar ajuda. Fazem isso apenas depois de quatro ou cinco anos”, diz Maria Angélica, do Geata.

Um dos indícios de que a pessoa está doente é o fato de ela comer sempre muito bem – os exageros costumam acontecer mais às escondidas – e nunca engordar. Outra pista são os rastros de comida, laxantes e remédios emagrecedores que ficam pela casa. E, acima de tudo, o fato de ir ao banheiro repetidas vezes durante ou após a refeição, além de exagerar nos exercícios físicos. As consequências quase sempre ficam restritas à doente – sem delatá-la –, como inflamações constantes na garganta, alterações no esmalte dos dentes causadas pelo ácido estomacal vindo à tona com o vômito, mau hálito, alterações intestinais e renais causadas pelo uso abusivo de laxantes e diuréticos, além de problemas cardíacos. “O tratamento pode levar dois anos ou, dependendo do caso, exigir um acompanhamento prolongado por tempo indeterminado”, afirma o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), do Hospital das Clínicas de São Paulo.

DRUNKOREXIA
O apelido popular vem da união do inglês drunk, “embriagado”, com o grego orexis, “apetite”. No Brasil, o transtorno também tem sido chamado de alcoorexia. Não importa a nomenclatura: o que está em jogo é o uso da bebida alcoólica como um subterfúgio para não engordar. “A drunkorexia pode se tratar de um quadro típico de anorexia, que engloba o desejo de perder cada vez mais peso, associado à dependência do álcool para obter saciedade ou até mesmo anestesiar o sofrimento”, diz o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Embora o consumo do álcool e de outras drogas seja comum em 30% dos casos de transtornos alimentares, na drunkorexia a bebida ganha muito mais ênfase. “Nesse caso, não existe compulsão por comida, e sim por álcool, que fornece calorias”, diz a psiquiatra Maria Angélica Nunes, do Grupo de Estudo e Assistência em Transtornos Alimentares (Geata), em Porto Alegre. Por isso, deve-se tratar também a dependência alcoólica. Desnutrição, interrupção dos ciclos menstruais, osteoporose precoce e problemas no fígado são algumas das graves consequências da doença. Sáude é Vital