sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Por que sua cabeça dói?

A dor de cabeça faz parte do dia a dia de aproximadamente 30% dos brasileiros. Apesar de comum, ela merece atenção e, se não fortratada, pode virar sua rotina de pernas para o ar. Descubra se é enxaqueca, conheça as causas desse tormento e aprenda a mantê-lo sob controle.

Ela é democrática: afeta gente de todas as idades e com perfis variados.
É tão comum que há mais de uma centena de tipos de cefaleia (nome científico da dor de cabeça) listadas nos manuais médicos. A enxaqueca e a cefaleia tensional, que, juntas, afetam a maioria das pessoas que reclamam de dor de cabeça, estão no grupo das dores primárias: mais do que apenas um sintoma, elas são a doença em si – por isso são o foco desta reportagem. No time das secundárias, estão as dores de cabeça que aparecem como sintoma de um problema em alguma outra parte do corpo – uma gripe, por exemplo – ou em situações específicas – como quando você toma algo gelado.

De um tipo ou de outro, a dor de cabeça incomoda principalmente o sexo feminino – a proporção de mulheres que sofrem de enxaqueca é de quatro para um homem; a cefaleia tensional atinge cerca de 90% das mulheres e 70% dos homens pelo menos uma vez na vida. “Por ser tão comum, mais da metade das pessoas se conforma com a dor e deixa de procurar o médico”, revela o neurologista Paulo Hélio Monzillo, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “O que é pior: elas aliviam o martírio com analgésicos sem saber que o abuso deles pode tornar a dor crônica em vez de curá-la”, alerta

Raio X da dor

Compare as características da enxaqueca e da cefaleia tensional e identifique a que faz você sofrer

CEFALEIA TENSIONAL
Dura de alguns minutos até sete dias. Quando se estende por mais de 15 dias por mês, durante 180 dias ou mais, é crônica.

Intensidade de leve a moderada.

Dor que afeta os dois lados, a frente e o topo da cabeça, além da nuca, com sensação de peso ou aperto.

Pode provocar intolerância a luminosidade e barulho e, em alguns casos, náusea.

ENXAQUECA
Dura de quatro a 72 horas. Quando ocupa mais de 15 dias por mês durante três meses, é crônica.

Intensidade de moderada a forte, a ponto de incapacitar para o trabalho e o convívio social.

Dor latejante, com sensação de pressão, geralmente de um lado só da cabeça. Algumas pessoas enxergam luzes ou sentem adormecimento em metade do corpo ou do rosto antes
de a dor chegar.

Pode levar à intolerância a luminosidade, barulho ou cheiros fortes e provocar enjoo e vômito. Pequenos esforços físicos, como apanhar um objeto no chão ou se levantar de repente, ficam insuportáveis.


“Ela é genética, causada por um desequilíbrio bioquímico no cérebro que atrapalha a ação dos neurotransmissores e dispara o incômodo”, explica o neurologista Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe). Em cada pessoa, essa perturbação cerebral é estimulada por um ou mais fatores, que vamos ver a seguir – sabendo o que lhe faz mal, dá para evitar as crises. Embora não tenha cura, há tratamento com remédios específicos para a doença (não só analgésicos!), afim de espaçar as crises e amenizar a dor. Se você tem enxaqueca sempre, vá ao neurologista: ele vai prescrever o melhor alívio para o seu caso.

STRESS: preocupação e trabalho demais, assim como situações de muita felicidade, promovem uma descarga hormonal que altera a atividade cerebral e de agra a dor em quem tem predisposição à doença.

HORMÔNIOS: a oscilação nos níveis de estrogênio explica a prevalência da doença nas mulheres – é por isso também que muitas têm enxaqueca no período menstrual e que tantas melhoram na gravidez e na menopausa, quando a produção de estrogênio cai.

ALIMENTOS: “Cerca de 15% das crises são deflagradas pela presença de tiramina no organismo, um produto do metabolismo de proteínas de queijos (principalmente os curados) e iogurtes, amendoim, lentilha e chocolate”, fala Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Ela dilata os vasos sanguíneos do cérebro e provoca a dor. Outras substâncias com efeito parecido são o açúcar, os nitritos (na salsicha e outros embutidos), o glutamato monossódico (nos molhos e sopas prontos) e o aspartame.

ÁLCOOL: a ação vasodilatadora é o que faz a cabeça pesar quando você exagera na dose. Quem possui o gene da doença sofre mais ainda, mesmo com pequenas doses de vinho ou cerveja: é que, além do álcool,essas bebidas têm tiramina. Mas não confunda com a dor de cabeça de ressaca, que acontece pela desidratação causada pelo álcool. A pouca ingestão de líquidos, aliás, altera o metabolismo cerebral e também pode desencadear a enxaqueca.

CAFÉ: para algumas pessoas, uma xícara da bebida piora a dor; para outras, melhora. Os especialistas dizem que o perigo mesmo é a mudança de hábito: ficar muito tempo sem café se você costuma tomar várias doses por dia ou passar da quantidade a que seu corpo está habituado.

SONO: para quem tem tendência à enxaqueca, as horas a mais na cama no fim de semana podem fazer um estrago. “Não é só a privação do sono que dispara a crise, mas o excesso e os cochilos fora de hora também”, avisa Paulo Monzillo. A receita é fazer o máximo para não quebrar sua rotina de sono, por maior que seja o cansaço ou o tempo para dormir.

Cefaleia tensional: mal da vida moderna

Se o stress é um dos gatilhos das crises de enxaqueca, aqui ele é o principal, pois tem relação direta com a sobrecarga imposta à musculatura da cabeça, dos ombros e do pescoço, que acaba em dor. Buscar formas de relaxamento, tentar evitar situações estressantes e praticar atividade física regularmente são as alternativas mais eficientes para amenizar o incômodo e não deixar que ele atrapalhe a rotina de trabalho e a vida social.
Os exercícios descontraem a musculatura e estimulam a liberação de endorfina e serotonina, substâncias que reduzem a dor e induzem sensação de bem-estar. Um estudo da Universidade e Granada, na Espanha, comprovou que meia hora de massagem na cabeça e no pescoço durante a crise de cefaleia alivia a dor e a ansiedade e tem efeito prolongado por 24 horas, dispensando o uso de analgésico. Para os especialistas, a vantagem em relação aos comprimidos é que a manipulação da região dolorida afasta a dor sem o perigo do efeito rebote (retorno depois que a droga para de agir).

Marcia Di Domenico/Boa Forma.