quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vinho pode ter surgido como remédio, dizem cientistas

Embora os micro-organismos possam ter inventado o álcool, os mamíferos o dominaram. Normalmente isso significava comer um fruto muito maduro de palmeira em demasia ─ mas há também os elefantes indianos que são loucos por bebidas alcoólicas e cerveja de arroz. De musaranhos arborícolas embriagados a macacos bêbados, a linhagem dos primatas é cheia de criaturas que adoram um trago, e com nosso passado de comedores de fruta 10% das enzimas dos humanos modernos são dedicadas exclusivamente a transformar álcool em energia. Muito provavelmente a ressaca já era conhecida na história humana muito antes das taças.

Quanto tempo os humanos levaram para começar a transformar intencionalmente a generosidade botânica da natureza em conhaques e vinhos? A bebida fermentada mais antiga que se tem conhecimento é um vinho de arroz e mel de 9 mil anos identificado em cacos de cerâmica do vilarejo de Jiahu, na China central. De acordo com o arqueólogo biomolecular Patrick McGovern, do Museu de Antropologia e Arqueologia da University of Pennsylvania, a maior parte do açúcar formado no vinho provinha de frutos do espinheiro chinês e de uvas silvestres, cujas sementes foram encontradas no local. Assim como hoje os povos andinos produzem chicha do milho, os produtores da bebida chinesa provavelmente mastigavam grãos de arroz e cuspiam a massa em um pote para fermentar juntamente com frutas. Seriam necessários outros 5 mil anos até os chineses desenvolverem um complicado sistema amilolítico de fermentação, onde cultivavam um tipo de mofo em bolos de cereais e ervas cozidos no vapor que eram adicionados à mistura de arroz para fermentação.

Nesse ínterim, habitantes da região próxima à Armênia e Geórgia estavam provavelmente começando suas tentativas com a uva comum, Vitis vinifera. McGovern identificou resíduos de ácido tártico em potes de 7.400 anos descobertos em uma construção de tijolos de barro nas montanhas Zagros, no Irã. Como os potes também apresentavam resíduos de resina da árvore terebinto ─ posteriormente descrita pelo naturalista romano Plínio, o Velho, como um conservante de vinho ─ o suco de uvas pode ter sido fermentado intencionalmente.

Entretanto, a fabricação de vinho é, provavelmente, muito mais antiga do que indicam os registros arqueológicos ─ talvez até dos primórdios do período paleolítico ─ e suas origens podem estar menos relacionados com nossos centros do prazer que com nosso interesse em desenvolver medicamentos. “O álcool era a droga universal”, observa McGovern. “É uma bebida misteriosa que tem sabor agradável e dá energia; é um acompanhante social com poderes de alteração da mente e muitas propriedades medicinais”.

Em maio, a equipe de McGovern identificou a primeira evidência química de medicamentos egípcios antigos, em vasilhames de 5 mil anos, na tumba do faraó Escorpião 1º ─ que foram reforçados com vinho de uva importado do vale do rio Jordão. Os egípcios sabiam que certos compostos ativos de plantas, como os alcaloides e terpenoides, dissolviam-se melhor em meio etílico, e eram então ingeridos ou aplicados sobre a pele.

Embora os pesquisadores concordem que o consumo moderado de bebidas seja benéfico para a saúde, ainda discutem se a ingestão de uma taça de vinho tinto por dia realmente ajuda a prolongar a vida. Ainda assim, é difícil imaginar a vida ─ ou a civilização ─ sem o vinho. Segundo McGovern, “Ele faz parte da história da humanidade e de quem somos”.
Brendan Borrell