sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Remédios para tratar distúrbios comportamentais engordam as crianças?

Um estudo revela que crianças que usam alguns antipsicóticos parar tratar distúrbios como hiperatividade ou transtorno bipolar podem ficar obesas. Especialistas brasileiros mostram que a situação não é sempre assim. Confira


Nenhum pai ou mãe fica 100% seguro e confortável ao saber que o filho precisa tomar medicamento porque tem algum tipo de distúrbio comportamental. Porém, muitas vezes, ele é fundamental para o bem-estar da criança. E um estudo divulgado esta semana trouxe ainda mais angústia para pais que têm filhos em tratamento ao afirmar que as crianças podem engordar entre 4 e 9 quilos em 11 semanas como efeito dos chamados antipsicóticos.

A pesquisa, que foi publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), analisou 205 crianças e adolescentes entre 4 e 19 anos que usavam algum tipo de antipsicótico, como olanzapina, quetiapina, risperidona ou aripiprazol. Segundo os cientistas, com a alteração de peso, há uma propensão maior de surgir outros problemas mais tarde, como colesterol alto e cardíacos.

Isso quer dizer que toda criança que precise usar um medicamento deste tipo irá engordar? Não é bem assim. Cada uma reage de uma maneira a determinado remédio, e, além disso, os antipsicóticos podem fazer com que o organismo acumule mais água, o que causaria o aumento dos ponteiros da balança. “Já tive crianças no meu consultório que até emagreceram ao tomar o aripiprazol”, diz José Raimundo Lippi, psiquiatra da infância e adolescência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A importância da família e de uma alimentação equilibrada

O aumento de peso vai depender também do hábito alimentar da criança. Segundo Lippi, a criança que está em tratamento fica mais relaxada, tranquila, dorme melhor, o que pode fazer com que coma mais. Porém, se a dieta dela for rica em gorduras e carboidratos, ela vai reter mais líquido, o que poderia ser resolvido se comesse mais fibras, por exemplo. “Quando a criança precisa usar antipsicóticos é fundamental uma reeducação alimentar da família - evitando alimentos que podem aumentar o peso e elevar a taxa de colesterol - e a inclusão de atividades físicas no dia a dia”, diz Lindembergue Bragança, psiquiatra infantil e presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psquiatria Infantil do Rio de Janeiro.

A parceria dos pais com o tratamento do filho é outro ponto importante. Um ambiente acolhedor só vai amenizar os possíveis efeitos colaterais da medicação. Pais constantemente tensos porque os filhos têm de tomar remédio podem deixar a criança ansiosa.

Lippi alerta, também, que o uso de medicação na infância é algo que precisa ser avaliado rigorosamente pelo profissional, porque a criança está em constante desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e do sistema nervoso. “Não se deve medicar a criança por qualquer coisa. O diagnóstico preciso é que vai mostrar a necessidade ou não do remédio. E este, quando usado com critério, só vai beneficiar a criança”, diz Lippi. Revista Crescer