segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mulher e homem têm sinais parecidos de infarto, diz estudo

As mulheres têm ou não sintomas diferentes quando sofrem um infarto? Alguns estudos dizem que os homens reclamam mais de dor no peito que irradia para os braços, enquanto elas relatam sintomas difusos, como náusea, dor nas costas e sudorese. Essa diferença seria um dos motivos pelos quais o infarto é detectado mais tarde na ala feminina.

Porém, um novo estudo financiado pela Sociedade Cardiovascular do Canadá diz que essa diferença de sintomas é um mito. O trabalho avaliou 305 pacientes em procedimento de angioplastia e concluiu que as mulheres têm sintomas iguais aos dos homens durante um ataque cardíaco.

A angioplastia utiliza um minúsculo balão inflado dentro da artéria para desobstruir placas de gordura e, inicialmente, produz sintomas semelhantes aos do infarto, como dor no peito. Isso ocorre porque o balão bloqueia brevemente o suprimento de sangue para o coração.

Segundo a enfermeira cardíaca Martha Mackay, pesquisadora do Instituto Canadense de Pesquisas em Saúde e uma das autoras do estudo, não houve diferença de gênero nas taxas de dor no peito ou outros sintomas -como desconforto nos braços, respiração acelerada, suor e náusea.

Ela diz que homens e mulheres sentem os mesmos sintomas, a diferença é que elas também podem apresentar outros sinais, como tosse ou dor no pescoço e na região da mandíbula. "Os sintomas clássicos são igualmente comuns entre homens e mulheres", diz.

Mas por que estudos anteriores mostraram diferenças de sintomas? Para Mackay, um dos fatores pode estar nas falhas de comunicação.

"Muitos profissionais das unidades de emergência focam em um menu limitado de sintomas e acabam perdendo alguns. As mulheres precisam falar ao médico sobre todos os sintomas, não somente sobre aquilo que lhes é questionado."

Ela recomenda que médicos e enfermeiras evitem formular "questões fechadas" ao paciente. "Por exemplo, em vez de perguntar apenas "você está sentindo dor no peito?" [questão que normalmente leva a um sim ou a um não], o profissional deve perguntar sobre outros sintomas que podem ajudá-lo a fazer o diagnóstico."

Para o cardiologista Otávio Gebara, diretor de cardiologia do Hospital Santa Paula e um dos autores do livro "Coração de Mulher", embora interessante, o estudo canadense não reproduz a realidade do infarto. "Inflar a artéria com um balão por alguns minutos não reproduz a biologia de um infarto."

O cardiologista Marcos Knobel, coordenador da unidade coronariana do hospital Albert Einstein, concorda que uma situação simulada do infarto, como a que ocorre na angioplastia, pode não representar a realidade. "Na vida real, há uma série de outros fatores que podem enganar. Você acabou de comer e sente um mal estar. Pode ser uma dor típica de infarto, mas você pode pensar que é uma gastrite, uma má digestão. Ou fez uma corrida e atribui a dor a uma distensão muscular."

Já o cardiologista Sergio Timerman, do InCor (Instituto do Coração), entende que a angioplastia reproduz "fielmente" os sintomas do infarto ao provocar uma isquemia rápida no vaso sanguíneo. "O trabalho derruba o mito e mostra que não existem diferenças entre os sexos. Cerca de 75% a 85% apresentam dor torácica como sintoma predominante", diz.

Knobel também entende que as dores de homens e mulheres sejam as mesmas, mas mulheres tendem a relatá-las de forma diferente. "E as dores podem ser as mais variadas possíveis. Já vi gente infartando com dor na mandíbula ou dor no punho esquerdo."

Para a médica Beth Abramson, porta-voz da "Heart and Stroke Foundation" canadense, embora as mulheres possam descrever suas dores de forma diferente, o principal sintoma é ainda a dor no peito. "A diferença é que a mulher demora mais para acreditar que está tendo um ataque cardíaco e adia a procura por tratamento."

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Folha Online