domingo, 27 de março de 2011
DIU contra a endometriose
Evitar a gravidez indesejada, diminuir a intensidade das cólicas e do sangramento mensal. Esses são os principais benefícios que o uso do dispositivo intrauterino (DIU) pode trazer para as mulheres. “Trazido para o Brasil há 10 anos, o DIU LUNG-20, feito com o hormônio levonorgestrel, um derivado da progesterona, está sendo cada vez mais usado para a melhora de vários problemas da saúde feminina, como a endometriose”, alerta Carlos Alberto Petta, especialista em Reprodução Humana e Endometriose e professor de Ginecologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Conhecida como a doença da mulher moderna, a endometriose já atinge seis milhões de brasileiras, provocando cólicas intensas e incapacitantes, além de dores durante as relações sexuais. “Hoje, com o uso do DIU no tratamento clínico, conseguimos evitar entre 50% e 70% das cirurgias para endometriose. Isso porque ele é bastante indicado para quem quer ter controle sobre a dor”, aconselha Petta. O próprio ginecologista realizou uma pesquisa em três universidades de São Paulo, publicada no periódico Human Reproduction, na qual pôde comprovar a eficácia do DIU LNG-20 no tratamento da endometriose e responde, para a VivaSaúde, algumas questões sobre a doença e o método contraceptivo. Algumas mulheres ainda têm muito preconceito sobre o uso do DIU por não saberem como efetivamente ele funciona. Poderia explicar? É importante dizer a essas mulheres que, hoje, ao falar sobre DIU, estamos nos referindo a um método anticoncepcional seguro e eficaz. Mesmo assim, é preciso entender a diferença entre o DIU, que, em geral, é feito de cobre e recomendado apenas para a anticoncepção, e o DIU LNG-20, feito com o levonorgestrel. Este último é na verdade um sistema intrauterino, pois também libera um hormônio. Se repararmos, o principal efeito colateral do DIU comum relacionado ao tem cobre. Esse metal pode aumentar o sangramento de 30% a 50%, em volume e dias, além de provocar cólicas. Anos atrás, ele era bom por ser barato e foi muito usado para a contracepção. Só que em países mais pobres – em que muitas mulheres têm anemia–, o aumento do sangramento piora ainda mais esse quadro. Então a diferença é que, em vez de liberar cobre, o novo DIU libera um hormônio. Qual é o hormônio liberado e como ele age no corpo da mulher? O hormônio chama-se levonorgestrel e é um derivado da progesterona. Seu efeito é contrário ao do hormônio natural, portanto não aumentará o sangramento, mas vai diminuí-lo. Também não aumentará a dor da cólica, vai diminuir sua intensidade. Qual é a relação entre o uso de DIU e a endometriose? Ao percebermos que o uso desse método diminuía a dor e o sangramento na mulher, passamos a pensar que essas são as principais queixas das mulheres com endometriose. Daí, começamos a relacionar seu uso com o tratamento desta doença que já atinge seis milhões de brasileiras. O primeiro estudo feito no Brasil, realizado em parceria com Unicamp, USP e USP de Ribeirão Preto, avaliou 39 pacientes e comprovou que quando elas usaram o DIU de levonorgestrel tiveram sua dor diminuída. O DIU , que um dia foi lançado para fazer anticoncepção, agora passa a ser usado para vários problemas ginecológicos que causam sangramento ou muita dor Essas dores são constantes ou só acontecem durante o ato sexual? A dor mais comum é a cólica menstrual. Mulheres com endometriose relatam uma dor que aumenta ao longo dos anos. Outros tipos de incômodo acontecem durante a relação sexual ou podem se manifestar como uma alteração intestinal ou de hábito urinário. Normalmente, a mulher com endometriose menstrua e tem diarreia, incômodo para urinar e dor crônica. Por isso, deve-se escolher o método anticoncepcional pelos benefícios que ele proporciona para essa paciente. E foi assim que o DIU LNG-20 começou a ser usado para tratar a dor em mulheres com endometriose e evitar cirurgias. Ele melhora a qualidade de vida com um tratamento clínico que dura até cinco anos. Hoje, evitamos entre 50% e 70% das cirurgias para endometriose, usando o DIU LNG-20. Em sua opinião, a endometriose está afetando cada vez mais mulheres? A endometriose é considerada a doença da mulher moderna porque tem a ver com ansiedade, estresse, gravidez tardia... Se você observar, as adolescentes, já aos 15 anos, estão todas estressadas e nervosas. Tudo isso mudou o perfil não só da endometriose, mas de outras doenças como diabetes e hipertensão, que são diagnosticadas cada vez mais cedo. O problema da endometriose é que ela afeta a mulher nos anos produtivos, quando está começando uma carreira. Para essa adolescente diagnosticada, é recomendável o uso do DIU ou o método é muito invasivo? Acho que é preciso discutir o tratamento com a adolescente e a mãe junto. Porque, querendo ou não, a virgindade é um tabu. Só que, às vezes, a dor é tão preocupante e incapacitante que o médico opta por colocar o DIU como um procedimento cirúrgico. Vamos desmitificar a cirurgia de inserção do dispositivo. Na verdade não é uma cirurgia, é um procedimento. O DIU passa pelo colo do útero, e na maioria das vezes isso é feito no próprio consultório médico, sem necessidade de anestesia ou sedação. As mulheres reclamam de um pouco de cólica, parecida com uma cólica menstrual forte, mas que dura dois ou três minutos no máximo. É importante que o médico que vai colocá-lo explique tudo à paciente, senão ela fica com medo e pode doer ainda mais. Em 90% das minhas pacientes, o DIU foi colocado no consultório. Que tipos de cuidados deve ter a mulher que adotou o DIU ? Ela precisa fazer mais consultas médicas? Não, o que normalmente acontece é que, após a inserção, o primeiro retorno deve ser feito em 45 dias, para tirar dúvidas e dar orientação. O segundo retorno é marcado para seis meses depois. Em seguida, a consulta é agendada uma vez por ano, quando é realizado o papanicolau e o exame de mama, daí o médico pode checar o DIU também. Outro temor das mulheres é o de o DIU sair do lugar. Isso realmente pode acontecer? A taxa de expulsão do DIU é de 2%. Nesses casos, o médico coloca, e ele realmente sai do lugar, mas não vai perfurar o útero ou passar pelo sangue. A maioria das expulsões acontece nos primeiros dois, três meses. Na relação sexual, se ele estiver fora do lugar, pode doer. Mas a relação em si não é capaz de tirar o DIU do lugar. Independentemente do vigor. Fernanda Emmerick e Renata Armas