quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quando a próstata engorda

Entre 80 e 90% dos homens com mais de 50 anos deparam ou vão deparar com o crescimento dessa glândula, cujo formato lembra uma noz. É a hiperplasia benigna, condição que pode atrapalhar, e muito, o dia a dia

Há fenômenos que ocorrem no corpo humano que são tão comuns quanto desconhecidos à maioria das pessoas. Ora, se um médico desse a você (ou ao seu pai ou marido) o diagnóstico de hiperplasia da próstata, não seria um disparate pensar, por causa do nome pomposo, em uma doença grave. Mas, para aplacar de imediato o susto, sobretudo à nação masculina, convém esclarecer: o termo se refere ao crescimento benigno da glândula, que geralmente se acentua após a quinta década de vida. A próstata, que antes se orgulhava dos seus 15 gramas, engorda com a idade a ponto de pesar de 30 a 120 gramas. Pois é, não apenas a barriga costuma se avolumar com o avançar dos anos...

Em tempos marcados por uma crescente preocupação com a saúde do homem, a hiperplasia ganhou até um novo livro destinado à classe médica e assinado por especialistas do porte do urologista Miguel Srougi, professor da Universidade de São Paulo. Mas o conhecimento não deve fi car restrito a quem veste o jaleco branco. “A próstata tem um papel importante no auge do período reprodutivo, mas, passada essa fase, parece virar uma sede de transtornos”, analisa Srougi, que também dirige o Instituto da Próstata do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. Um deles é a tal hiperplasia benigna.

Antes de esmiuçarmos sua origem e suas consequências, é preciso fazer justiça a essa condição tão popular. Nem sempre a hiperplasia atrapalha a qualidade de vida do dono da próstata. “A glândula pode crescer e o indivíduo não apresentar queixa alguma”, afirma o urologista Cássio Andreoni, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Nessas circunstâncias, o inchaço nem precisa ser tratado.” No entanto, para um grupo de desafortunados, a próstata gordinha se torna mesmo um estorvo. “Acredita-se que 30% dos homens com a hiperplasia necessitam de um tratamento”, diz o urologista Rafael da Luz Boeno, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Isso porque, neles, o aumento da próstata causaria um pandemônio no trato urinário. “Ao crescer, a glândula provoca um estreitamento do canal da urina, bem como uma sobrecarga na bexiga”, descreve Andreoni. Daí, o indivíduo acorda diversas vezes à noite para urinar, não se sente totalmente aliviado ao sair do banheiro e pode sofrer até incontinência urinária. Diante dessa desdita, não é raro que soe a pergunta: por que a próstata, a caminho da aposentadoria, resolve ganhar peso? Para buscar a resposta, temos que entender primeiro os altos e os baixos da glândula na vida do homem. Ela começa a crescer quando o indivíduo ainda é um feto e se desenvolve até a adolescência, se estabilizando na fase adulta. Mas, na casa dos 40 anos, volta a ganhar volume aparentemente sem motivo. Segundo o médico Miguel Srougi, uma teoria, a do redespertar embrionário, explicaria o fenômeno apontando substâncias capazes de estimular o crescimento da próstata no feto e que seriam ativadas de novo na maturidade. “Outra teoria, porém, credita esse aumento a um processo desencadeado por um micro-organismo”, conta. Até o momento, estamos sem veredicto.

OS SINTOMAS DA HIPERPLASIA

›› Esforço para urinar; jato de urina fraco
›› Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga
›› Sono interrompido várias vezes à noite para ir ao banheiro
›› Incontinência urinária
›› Infecções urinárias freqüentes
›› Desconforto ao urinar

Ainda é difícil falar em prevenção da hiperplasia benigna. Não há estudos atestando o efeito protetor da atividade física ou da alimentação — salvo pelo vinho tinto, que contribuiria para uma próstata mais enxuta. Hoje se sabe que o fator hereditariedade pesa bastante e rondam suspeitas de que a obesidade favoreça o problema. O que ninguém discute é a importância de visitar o urologista, especialmente na presença dos já citados sintomas. “Para fazer o diagnóstico da hiperplasia, lançamos mão do exame clínico, do toque retal, de um exame de sangue que dosa um marcador de doenças na próstata, o PSA, e do ultrassom”, conta o urologista Marcos Dall’Oglio, da Sociedade Brasileira de Urologia. Essas ferramentas apuram as medidas da glândula e ajudam a excluir males maiores, como o câncer.

Aliás, quando falamos em hiperplasia, tamanho não é sinônimo de documento, ou melhor, de gravidade. “Há homens com uma próstata acima de 30 gramas sem sinais do problema e outros com próstata com menos de 30 gramas apresentando sintomas”, lembra Boeno. “A hiperplasia deve ser avaliada não pela dimensão da glândula, mas pela intensidade das queixas”, pontua Srougi. Se, aliada a elas, os exames acusarem um exemplar avantajado, não há razão para pânico, porque existe tratamento. E, caso a próstata se negue a fazer regime com os remédios, tem até cirurgia ou raio laser à sua espera.


Saúde é Vital