quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A lipoaspiração é tão arriscada como qualquer outra cirurgia

Se você digitar lipoaspiração em sites de busca, verá diversas notícias associando esse procedimento à complicações e até mesmo ao falecimento de alguns pacientes. Nos últimos anos, problemas durante a realização desta cirurgia têm ocupado espaço na mídia, em todo o país. Na verdade, não existe uma cirurgia mais arriscada do que outra, nem mesmo as cirurgias plásticas.

A lipoaspiração está sujeita às mesmas complicações que qualquer outro procedimento cirúrgico. Após mais de trinta anos de aplicação da técnica, a lipoaspiração está consolidada no Brasil. As estatísticas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, SBCP, indicam a realização de 90.000 lipoaspirações por ano. Precisamos avançar nas questões que garantam maior segurança à realização do procedimento, o que necessariamente passa por uma melhor qualificação dos profissionais.

Problemas com a lipoaspiração acontecem quando a indicação do procedimento não é precisa. No rol das promessas de emagrecimento fácil estão chás medicinais, adesivos cutâneos, dietas da moda, pílulas que regulam o apetite ou cirurgias de redução do estômago.

Frequentemente, a lipoaspiração também é a saída procurada por pessoas que estão acima do peso. A lipoaspiração não é um método de emagrecimento. É um procedimento destinado a remover gordura localizada, como as que se encontram debaixo dos braços, nos quadris e na região abdominal. É o tipo de gordura que dificilmente pode ser eliminado, mesmo com o auxílio de exercícios físicos e de uma nova dieta.

Vale destacar também que esta regra só se aplica à pacientes adultos. Crianças, ainda que tenham acúmulo de gordura no corpo, a ponto de comprometer seu bem estar físico e psicológico, não devem se submetidas à lipoaspiração. Já para os adolescentes, a lipoaspiração pode ser indicada, contanto que o jovem operado não seja obeso.

Além da indicação bem feita, as contra-indicações precisam estar bem claras também. A partir de 10% a mais do peso ideal, os resultados da lipoaspiração não são tão satisfatórios. É importante entender que se trata de uma cirurgia de acerto de contornos e não deve ser encarada como um método para emagrecer.

Há um limite de gordura que pode ser retirado. De acordo com as normas do Conselho Federal de Medicina, não se pode passar de 7% do peso corporal do paciente na lipoaspiração úmida (com injeções de soluções líquidas) e 5% de retirada de gordura na lipoescultura a seco.

Doenças cardíacas graves, alterações pulmonares, anemia, diabetes e hipertensão arterial precisam estar sob controle para que o paciente seja operado. Outra grande contra-indicação diz respeito às alterações psicológicas, como depressão e doenças ligadas à auto-imagem, como a anorexia e a bulimia. Nesses casos é preciso acompanhamento profissional psicológico antes da cirurgia.

Para evitar problemas

Um fator que contribui para o sucesso do procedimento é o conhecimento dos riscos por parte do paciente. O paciente deve ser informado que independentemente da técnica, os maiores riscos da lipoaspiração são tromboses e embolias. Para prevenir problemas é necessário que o médico investigue se o paciente apresenta histórico anterior de flebite e trombose nas pernas.

Deve ser usada uma bomba massageadora, durante e após a cirurgia, para estimular a circulação na panturrilha. A realização da cirurgia em ambiente adequado, com toda a infra-estrutura para atendimento de emergência e o acompanhamento de um anestesiologista auxiliam na prevenção de problemas. O paciente deve também observar a estrutura de atendimento ambulatorial do profissional. Durante a consulta, o especialista deve passar calma, confiança, além de tirar todas as dúvidas do paciente.

O primeiro passo é verificar se o profissional é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Depois, é conveniente conversar com pacientes que já foram operados por esse médico e verificar também se ele atua em bons hospitais e se a equipe dele é habilitada e treinada.

Por enquanto, não há nenhuma normatização impedindo que um médico de outra especialidade faça uma cirurgia plástica. Mesmo não sendo obrigatório, o título de especialista indica um maior preparo.

Por fim, desconfie de promessas milagrosas. "Minilipo", "Lipinho"ou "Lipo Light" são nomes que seduzem e podem até confundir quem quer melhorar o contorno corporal, mas tem medo de se submeter a uma cirurgia. Não considero apropriado "mascarar" o procedimento, lipoaspiração é sempre lipoaspiração, com os seus riscos e benefícios. É preocupante observar a banalização das lipoaspirações de pequeno porte.

A publicidade médica irregular é a infração mais recorrente nos processos analisados pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, Cremesp, que envolvem a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos. Esta prática abrange a exposição de pacientes (mostrando o "antes" e o "depois"), a divulgação de técnicas não reconhecidas, de procedimentos sem comprovação científica e a mercantilização do ato médico (anúncios em quiosques de shoppings, promoções onde o "prêmio" é uma cirurgia plástica, consórcios e crediários para realização de cirurgias plásticas).

Ao se deparar com anúncios como estes, o paciente deve ficar alerta. A cirurgia plástica não pode ser oferecida como uma vantagem, uma bagatela ou um grande negócio. [ Minha Vida ]