quinta-feira, 22 de abril de 2010

Brasileira obesa tem dieta similar a do americano: rica em gordura e pobre em carboidratos, o que leva ao sobrepeso

Estudo realizado com mulheres obesas brasileiras aponta como principais causas da obesidade o alto consumo de gordura na dieta e sedentarismo. O trabalho traz indícios de que retirar o carboidrato da dieta não vai promover de forma eficiente o emagrecimento, mas muitas vezes pode ter efeito contrário, resultando em maior ingestão de gordura e proteína. Além disso, ele mostra que a alimentação deste grupo se assemelha muito com o padrão de ingestão da população obesa americana.

A pesquisa intitulada Obesidade e resistência à ação da insulina: alterações moleculares, bioquímicas e estruturais, desenvolvida no Programa de Biologia Celular e Tecidual do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, corrobora os dados encontrados na literatura científica mundial.

Buscando entender os mecanismos da obesidade feminina, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) reproduziram em laboratório um modelo experimental para estudar os efeitos das dietas ricas em gorduras (hiperlipídicas) sobre a regulação do metabolismo e o desenvolvimento do diabetes tipo 2 como conseqüência da obesidade.

Inicialmente, em 1997, realizamos estudo com mulheres obesas pré-menopausa com intuito de avaliar qual era o padrão alimentar desta população. Identificamos então que as mulheres consumiam quase 40% do valor energético diário total em gordura, além disso, possuíam o hábito de praticar uma quantidade menor de refeições diárias, acreditando ser essa uma solução para o emagrecimento. Outro fator preocupante está no fato de que esta população consumia muita gordura saturada, cerca de 45% do total de gordura ingerida na dieta.

Evidências sugerem que a prevalência do sobrepeso e da obesidade tem aumentado em taxas alarmantes, tanto nos países desenvolvidos, como nos países em desenvolvimento. Cerca de dois terços da população adulta americana, por exemplo, demonstra sobrepeso, ou já obesidade. No caso do Brasil, as mudanças demográficas, sócioeconômicas e epidemiológicas ao longo do tempo permitiram que ocorresse a denominada transição nos padrões nutricionais, com a diminuição progressiva da desnutrição e o aumento da obesidade. As consequências da obesidade para a saúde são muitas e variam do risco aumentado de morte prematura a severas doenças não letais, conhecidas como comorbidade associadas à obesidade, além de problemas de natureza estética e psicológica.

Alguns autores enfatizam o fato de que a aumento na prevalência da obesidade, em diferentes grupos populacionais, está relacionada, preponderantemente, aos chamados fatores ambientais, em especial à dieta e à redução da atividade física. No estudo realizado na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP envolvendo cerca de 80 mulheres na pré-menopausa que apresentavam obesidade, 80% das participantes não praticava qualquer atividade física.

Outra etapa da pesquisa envolveu modelo experimental laboratorial, onde dois grupos de ratos foram submetidos ao consumo de ração normal, ou ração hiperlipídica (com alto teor de gordura). A ração hiperlipídica foi desenvolvida para ter composição nutricional semelhante ao padrão encontrado nos estudos preliminares com mulheres. Curiosamente, o grupo que consumiu dieta hiperlipídica ingeriu menor quantidade calórica total (cerca de 63kcal/dia) do que o grupo de controle (cerca de 75kcal/dia). No entanto, as calorias provenientes de gordura foram três vezes maior no grupo com ração hiperlipídica (cerca de 24kcal/dia), quando comparado com o controle (cerca de 8kcal/dia).

Os resultados mostraram que mesmo consumindo menor quantidade calórica total, o grupo que ingeriu mais gordura desenvolveu, não só obesidade, mas também intolerância à glicose (passo inicial no desenvolvimento do diabetes tipo 2).

O mais interessante é que este padrão de consumo alimentar também é facilmente encontrado nas pessoas que querem emagrecer; isto é, reduzem o total calórico ingerido principalmente, retirando carboidrato da dieta. Quem nunca viu e não conhece aquele famoso cardápio de quem quer emagrecer: grelhado com salada? Neste caso, as principais fontes de energia consumidas são: lipídeo (gordura) e proteína, e este é exatamente o padrão de ingestão nutricional da população obesa, brasileira e americana, alta ingestão de gordura e baixa em carboidrato.

Muitas vezes é preciso fazer uma avaliação mais minuciosa dos nossos hábitos alimentares para identificar o porquê de engordarmos, ou não emagrecermos. Não basta creditar a culpa em um único nutriente. Muitas vezes o problema não está no pão, mas na manteiga que passamos no pão; não está na massa, mas no molho branco e no queijo parmesão que acompanham a massa.

A retirada de carboidrato da dieta promove de fato perda de peso corporal. Isto ocorre porque o carboidrato é estocado em nosso corpo juntamente com a água. Assim, se restringirmos o consumo de carboidrato perderemos água. Basta lembrar da época da escola quando aprendemos que água não se mistura com gordura. Desta forma, ao perder água não perderemos gordura e sim massa magra, isenta de gordura.

Embora todos já saibam: mudar o estilo de vida, melhor os hábitos alimentares de forma sustentável, praticar atividade física regularmente serão ações muito mais eficientes e com efeitos mais duradouros, do que procurar um único culpado para a obesidade ou ainda uma fórmula mágica para perder em 1 mês o que se levou 5, ou 10 anos para ganhar!. Nutritips