quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Amizade só faz bem

Recentes estudos confirmam: viver sozinho é prejudicial à saúde, principalmente à do coração. Para evitar os danos, psicólogos ensinam o que fazer para viver rodeado de amigos

Vivemos um tempo no qual tudo nos convida a estarmos sós. Os livros são de auto-ajuda, os restaurantes são do tipo self-service, o mercado imobiliário se especializa em imóveis para pessoas que optaram por morar sozinhas, e até as embalagens dos produtos têm sido idealizadas para aqueles que nunca estão acompanhados. Viver só não é um problema em nossa sociedade, mas sinal de que alcançamos independência, auto-estima e suficiência.

Embora aprender a estar consigo mesmo e apreciar essa condição sem sofrimento seja uma meta ideal, o outro lado da questão faz pensar em quão difícil tem sido construir relações ricas e duradouras, não só do ponto de vista romântico, mas também social. Além disso, estudos indicam que permanecer isolado socialmente pode acarretar alterações significativas em nossa saúde, pois essa condição tem sido relacionada à depressão, diminuição do sono e da capacidade cognitiva, doença de Alzheimer e até mortalidade.

A solidão está também associada ao aumento da pressão sanguínea, das atividades do hipotálamo, da glândula pituitária e do córtex adrenal (vinculados ao hormônio do estresse, o cortisol), alterações no sistema imunológico, arteriosclerose, diabetes, inflamações e contrações nos vasos sanguíneos. Não bastasse esse extenso elenco, alcoolismo, sedentarismo e obesidade aparecem igualmente na lista dos males de quem vive só.

Uma pesquisa realizada por Louise Hawkley, diretora e pesquisadora do Laboratório de Neurociência Social, do departamento de Psicologia da Universidade de Chicago, nos EUA, mostrou que o remédio para prevenir essas enfermidades é manter um círculo de amizades ou estar inserido em algum grupo social.

A psicóloga diz que “ter muitas amizades não é necessariamente mais benéfico do que possuir apenas um bom amigo. O que verificamos em nosso estudo sobre a solidão é que um bom casamento, ter um ou mais amigos ou pertencer a um grupo significativo contribuem para a sensação de estar socialmente conectado. Esses são os tipos de relações que estão associados à boa saúde”, esclarece aos leitores de VivaSaúde, em entrevista exclusiva.

Louise lembra que cada pessoa difere em suas necessidades e, por isso, alguns indivíduos precisarão apenas de um amigo para se sentirem satisfeitos. Outros estarão mais à vontade se puderem contar com um número maior de amizades. Indagada se esse comportamento pode variar entre homens e mulheres, a pesquisadora explica que sua investigação não apresentou diferenças de gênero quanto à solidão. Contudo, ressalta, “os homens dão menos importância à questão do que as mulheres”.

"TER MUITAS AMIZADES NÃO É NECESSARIAMENTE MAIS BENÉFICO DO QUE POSSUIR APENAS UM BOM AMIGO. O MAIS IMPORTANTE É SENTIR-SE SOCIALMENTE CONECTADO"
LOUISE HAWKLEY, PESQUISADORA DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO



É fácil não ser só

A arte imita a vida e o órgão que mais sofre com a solidão é o coração. Viver só é condição de risco que leva à resistência da circulação sanguínea do sistema cardiovascular, causada por inflamações decorrentes do excesso de cortisol no organismo. Louise sugere, então, algumas ações preventivas para se manter longe das doenças. Ela cita uma fórmula concebida por um de seus colaboradores, John Cacioppo, autor do livro Loneliness – human nature and the need for social connection [“Solidão, a natureza humana e a necessidade de conexão social”, ed. Norton, sem tradução para o português]

O pesquisador sintetizou uma série de atitudes por meio de um acrônimo: EASE [fácil]: E, de Expose [expor-se]; A, de Action Plan [plano de ação]; S, de Selection [seleção] e E, de Expect the best [esperar o melhor].

O primeiro passo rumo às amizades é expor-se, aumentando nossa participação em eventos sociais: “Procure encontrar um jeito de se relacionar com outras pessoas, talvez tomando a iniciativa de oferecer ao outro um gesto ou uma palavra gentil, quem sabe por meio de um trabalho voluntário, como ler um livro para cegos”. A psicóloga acrescenta que essa atitude pode não levar necessariamente a uma amizade a longo prazo, “mas traz sensação de bem-estar pelo simples fato de se estar com outras pessoas”.

O passo seguinte é desenvolver um plano de ação: saber que tipo de amizades você deseja e, só então, projetar como fará para chegar até elas. “Isso inclui pensar sobre os tipos de problemas ocorridos no passado com suas amizades, procurando aprender (talvez com a ajuda de um consultor treinado), formas de evitar essas dificuldades no futuro”, diz Louise. “Isso significa ser honesto consigo mesmo sobre as mudanças pessoais que devem ser feitas, tentando ser positivo e abrindo-se aos outros, estando pronto para recomeçar, caso não se obtenha sucesso na primeira vez”, conclui.

O terceiro passo é selecionar os amigos cuidadosamente. “A melhor forma de aliviar a solidão é com o apoio de amizades de qualidade, não com um vasto número de amigos superficiais”, pondera a psicóloga. “Você terá mais sucesso se procurar por alguém que possua crenças semelhantes às suas e esteja no mesmo estágio da vida que o seu.” A quarta e última ação é esperar o melhor. Louise fala que, se esperamos nada além do melhor, é exatamente isso que teremos. “Uma atitude positiva, paciência, e um espírito generoso trarão os outros até você e aumentarão suas expectativas positivas.” Viva Bem