sábado, 20 de novembro de 2010

Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que praticamente metade dos homens e mulheres com HIV reclamam que a vida sexual fica pior após serem diagnosticados com o vírus causador da Aids. As queixas, que são maiores por parte dos homens, afetam diretamente o desempenho e a frequência de suas relações sexuais.

Após avaliar questionários feitos a 250 homens e 729 mulheres, o estudo descobriu que 59% deles consideravam que sua vida sexual piorou após se descobrirem com o vírus. No caso delas, esse índice foi de 41%.

Para a psicóloga Lígia Polistchuck, especialista em saúde pública e autora do estudo, como os homens em geral valorizam mais o sexo e, por isso, falam mais sobre o assunto, talvez eles reclamem mais quando ocorrem mudanças na atividade sexual.

- Os homens, de fato, têm mais parcerias sexuais, têm uma vida sexual diferenciada, e isso faz diferença [após o diagnóstico do HIV]. O estudo reafirmou o discurso hegemônico do sexo por parte do masculino.

A pesquisa mostrou também que a falta de informações e de uma melhor relação dos pacientes com os serviços de saúde são fatores que contribuem para uma vida sexual de pior qualidade.

Leo Bolanski tem 28 anos e é portador do HIV desde os 13, quando se infectou em uma relação sexual. Apesar de não enfrentar dificuldades em sua vida sexual, Bolanski convive com o problema porque orienta portadores no Centro de Testagem e Aconselhamento de Embu das Artes, cidade da Grande São Paulo.

De acordo com ele, a maioria dos portadores sofre com a vida sexual porque não sabe de que forma agir após descobrirem que são portadores do vírus.

- Os próprios pacientes têm preconceito. Muitos pensam que, por ser soropositivo, não podem mais ter relação sexual. Mas a gente tem que estimular a prática.

A dificuldade de conversar com os médicos especialistas também é apontada por Bolanski como um dos fatores de piora na vida sexual.

- Os portadores se abrem mais comigo sobre sexo do que com o infectologista. Os médicos são mais sérios, não têm essa abertura com o paciente. É raro encontrar um médico que tem um papo legal.

Na pesquisa da USP, a má relação do paciente com os serviços de saúde foi o principal fator indicado pelas mulheres para a piora da vida sexual - em especial a dificuldade que elas têm para falar sobre sexo com seus ginecologistas.

A hipótese de Lígia para a causa do problema é que esses profissionais cuidam das soropositivas com foco na vida reprodutiva delas, e não na vida sexual. Além disso, muitas vezes eles limitam as orientações à prevenção sexual.

- Existem muitos outros fatores além da prevenção. Parece faltar espaço para construir o que pode ser uma vida sexual após o HIV. Reduzir o atendimento à prevenção é reduzir a pessoa ao diagnóstico.

No caso dos homens, o principal fator associado à piora da vida sexual foi o desemprego. Segundo Lígia, os portadores sem trabalho têm mais chances de ter uma pior vida sexual.

- Essa questão se relaciona com a “construção de masculino”, já que os homens mesmo se cobram para serem provedores da casa, terem condições financeiras.

Fatores de proteção do sexo

O estudo da USP também verificou quais fatores apontados por eles e por elas impedem que as relações sexuais piorem. No caso das mulheres, Lígia afirma que ter uma renda mensal de 2 a 4 salários mínimos foi o principal fator de proteção.

- Por causa da independência financeira, talvez elas consigam se colocar nas relações de uma forma mais empoderada [com poder].

No caso dos homens, aqueles que relataram pelo menos seis parcerias sexuais até serem diagnosticados com o vírus se queixaram menos da vida sexual após o HIV.

- Isso tem a ver com a construção do masculino. A construção de uma vivência sexual durante a vida protege o sexo contra a piora.

Outro fator apontado por eles foi o uso de maconha. A hipótese da pesquisadora é de que a substância pode permitir maior relaxamento durante a relação, aliviando pressões que os homens geralmente sentem com relação ao seu próprio desempenho. A maconha também poderia amenizar alguns efeitos colaterais do tratamento da Aids, como os enjoos e a falta de apetite.

- Isso são apenas suposições, e os resultados variam de pessoa para pessoa.

Diego Junqueira, do R7