quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tique nervoso tem cura, sim

Isso me dá tique-tique nervoso, tique-tique nervoso...", já dizia a canção. E não tem como lembrar dela sem pensar em uma careta ou numa outra mania persistente sua ou de alguém conhecido. O tique nervoso ou cacoete são nomes populares usados para denominar um quadro clínico que se caracteriza por gestos ou comportamentos estereotipados, repetitivos e sequenciais, que são realizados de maneira involuntária, muitas vezes imperceptível e que só dão descanso na hora de dormir.

De origem sonora (como pigarrear, tossir, grunhir, estalar a língua ou falar coisas comuns, mas fora do contexto) ou motora (como repuxar a cabeça, entortar o pescoço, piscar, fazer caretas, pular, ou, em instâncias mais graves, se machucar ou se morder), os tiques chamam atenção, mas podem virar um incômodo para quem precisa conviver com eles.

Quando se manifestam simultaneamente, os tiques são sintomas do que os especialistas chamam de Síndrome de Tourette. Caso se expressem de forma isolada, são clinicamente conhecidos como Transtornos de Tiques Crônicos. Embora pareçam semelhantes nos sintomas, as motivações são distintas e isso faz diferença na hora de tratar os tiques , avalia a psicóloga Ana Gabriela Hounie, do departamento de psiquiatria da USP.

A Síndrome de Tourette, que integra tiques motores e sonoros, se manifesta desde a infância e, em até 30% dos casos, está associada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

Mais comuns, os Transtornos Crônicos, em geral, desaparecem na fase adulta. Os tiques estão associados a um estado transitório e, quando tratados adequadamente, desaparecem com a maturidade, porém, quando agravados ou característicos da Síndrome de Tourette, podem estar relacionados ao desenvolvimento ou a piora de outras doenças como TOC e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TADH) e ainda gerar graves sequelas psicológicas e emocionais, como a depressão.

Sem piadinhas
O perigo está na criação dos esteriótipos, principalmente, na infância, fase em que os traumas são mais graves e tendem a perdurar por toda a vida. Os gestos podem incomodar muito quem os possui, pois diminuem sua autoestima e geram ansiedade no paciente que, ao se sentir ridicularizado pelas brincadeiras dos colegas, tenta controlá-los a todo custo. Em casos extremos, os tiques são tão marcantes que chegam a afastar a pessoa de seu convívio social. Nas crianças, pode acarretar uma queda no rendimento escolar ou até a saída da escola.

Para quem convive com uma pessoa que tem cacoetes, o desafio é prestar atenção no que ela fala, pois os gestos e sons desordenados desconcentram qualquer um. "Muitas vezes, a dicção da pessoa fica afetada e fica difícil compreender o que ela diz. Daí a dificuldade em arrumar um emprego ou estabelecer um relacionamento amoroso, por exemplo", explica a psicóloga Cristina Godoy

Como se tratam de alterações neurofisiológicas, não se sabe ao certo como elas são transmitidas geneticamente, mas o que se sabe é que outros familiares também podem apresentar as mesmas manifestações. "É importante observar o comportamento dos demais membros da família, pois isso pode ajudar durante o tratamento", diz Cristina.

Fatores psicológicos e ambientais também podem estar ligados aos tiques. Assim, traumas, situações limites - como a espera de uma resposta importante - e o uso de drogas, anabolizantes ou quaisquer substâncias que alterem o metabolismo de forma drástica podem desencadeá-los ou despertá-los.

Confira as dicas dos especialistas para ajudar você a amenizar os tiques:

Identifique a causa
uma dica importante é observar se os motivos são ou não emocionais e o que os causam. Dessa forma, ações simples - como dar mais tempo para um aluno que começa a manifestar cacoetes em função da pressão do pouco tempo para realizar uma prova ou se dedicar a um filho que está enciumado com o nascimento do irmãozinho - podem evitar o agravamento da doença.

Foco em você
tente perceber se você executa gestos ou emite sons desordenados repetidas vezes ao longo do dia.

Exercício de autocontrole
sempre que se perceber fazendo o cacoete, pare imediatamente, assim, você terá ciência do que faz. "O problema do cacoete é que ele geralmente é involuntário, por isso as pessoas demoram muito a procurar ajuda", diz Ana Gabriel Hounie. "Nem sempre o paciente consegue ter o autocontrole, por isso a ajuda médica é essencial."

No consultório médico
na maioria dos casos, o tratamento consiste no uso de medicamentos e na terapia cognitivo comportamental que ajuda a relaxar e até a tentar trocar um tique por outro mais aceitável socialmente. "Porém, quanto mais cedo cuidar da doença é melhor para o bem-estar do indivíduo, principalmente, para evitar o estigma", avalia Hounie.

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