domingo, 7 de fevereiro de 2010

Depressão

É uma palavra usada freqüentemente para descrever nossos sentimentos. Todos nós temos altos e baixos emocionais, e alguns sentimentos são normais em determinadas fases da vida. Muitas vezes confundimos o sentimento de tristeza com a depressão. Tristeza é um sentimento normal do ser humano, uma emoção que pode ser notada diante da realidade que nos frustra. E como no mundo moderno é muito comum vivermos situações que provocam decepções, perdas e frustrações, este sentimento é experenciado inúmeras vezes na vida e não tem nada de patológico.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a depressão é uma das doenças mentais cuja incidência mais tem crescido nos últimos anos, principalmente nos países industrializados. A depressão sob o aspecto de evento psiquiátrico é uma doença que se caracteriza por afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a particularmente com um estado anormal de tristeza. Ou seja, é uma doença caracterizada, sobretudo pela perturbação do humor. Não é simplesmente estar na "fossa", ou uma condição que pode ser superada com força de vontade ou pensamento positivo. É uma doença que acomete o físico e o psíquico, provocando enorme sofrimento.
Segundo o manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSMIV-TR), os Transtornos de Humor incluem os Transtornos Depressivos (ou depressão unipolar), Transtornos Bipolares (que incluem pelo menos um episódio de hipomania), e dois transtornos baseados na etiologia - Transtorno de Humor, baseado em uma condição médica geral, e Transtorno do Humor, induzido por substâncias.
Em geral, a pessoa deprimida sente-se triste a maior parte do dia, praticamente todos os dias, desanimada, abatida, com o conhecido "baixo-astral". A característica essencial de um episódio depressivo é um período mínimo de duas semanas, durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui alterações no apetite ou peso, no sono, na atividade psicomotora, diminuição de energia, sentimentos de desvalia ou culpa, dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou idéias suicidas.

Homens e mulheres, independentemente da faixa etária, podem ser atingidos pela doença. No entanto, as mulheres apresentam um risco duas vezes maior de terem depressão em algum momento de suas vidas. Algumas mulheres relatam uma piora dos sintomas depressivos nos dias que precedem a menstruação ou em algum momento da adolescência ou da menopausa.

Os sintomas da Depressão
A sintomatologia da depressão é muito variada, e ainda assim podemos contar com diferentes manifestações, dependendo da personalidade de cada indivíduo. Existem alguns sintomas básicos evidenciados nos quadros depressivos:

Humor deprimido
O humor é descrito pela pessoa como deprimido, triste, desesperançado e desencorajado. Alguns indivíduos relatam queixas somáticas em vez da tristeza. Em crianças e adolescentes este humor pode ser manifestado pela irritabilidade, raiva exagerada ou ataques de ira.

Perda de interesse
Este sintoma está quase sempre presente, com diferentes intensidades. Há um menor interesse por atividades rotineiras e anteriormente consideradas prazerosas. Pode ocorrer uma diminuição de interesse ou desejo sexual.

Alterações do Apetite e do Sono
O apetite geralmente está reduzido ou aumentado para alguns alimentos específicos, podendo ocorrer perda ou ganho significativo de peso.
O distúrbio do sono mais comum é a insônia, geralmente a do tipo intermediária (em que a pessoa acorda durante a noite e não consegue dormir) ou terminal (aqueles que despertam muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente).

Alterações Psicomotoras
Incluem agitação ou retardo psicomotor.

Diminuição da energia, cansaço e fadiga
É comum o relato de fadiga constante, mesmo quando não há atividade que exija um esforço físico considerável.

Sentimento de desvalia
Pode-se observar que o indivíduo faz uma avaliação negativa e irrealista do próprio valor, tem muitas preocupações com sentimento de culpa ou ruminações acerca de pequenos fracassos do passado.
٭ Prejuízo na capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões.
٭ Idéias suicidas ou tentativa de suicídio.

Causas da Depressão
Apesar de existir uma predisposição genética para os casos de depressão, este fator por si só não determina a ocorrência de uma crise depressiva. Sabe-se que intensas emoções, o estresse do dia-a-dia e fatores sociais podem provocar e desencadear fortes alterações no funcionamento cerebral que levam à depressão.

Pesquisas já evidenciaram na depressão a alteração de uma série de neurotransmissores, níveis alterados de neuropeptídios, perturbações hormonais, como alterações no hormônio da tireóide, além de mudanças no fluxo sanguíneo.

Toda doença orgânica tem o seu representante psíquico, e com a depressão não seria diferente. Do ponto de vista emocional, pode-se observar uma certa constância no tipo das vivências emocionais dos indivíduos que apresentam depressão. É claro que a personalidade de um indivíduo está sempre vinculada à sua história e ao modo como se criou, se desenvolveu e adquiriu sua maneira de ser. Mas em geral as pessoas que apresentam depressão têm maior "rigidez" mental, isto é, apresentam para si exigências e limites muito maiores do que seria necessário para se viver bem. Com padrões mais altos de como as coisas e a vida deveriam ser vividas, gasta-se muita energia mental para mantê-los e sobra menos disposição de conseguir a satisfação de viver de forma mais prazerosa. Maiores exigências provocam mais e repetidas frustrações.

Diversos estudos da área psiquiátrica e psicológica encontraram uma associação significativa entre traumas por perdas na infância e depressão na vida adulta. Os autores destes estudos acreditam que o trauma incindindo sobre um indivíduo geneticamente vulnerável pode desencadear o epsódio depressivo.

Existem alguns fatores estressores que podem propiciar o início da depressão. Esses fatores desencadeantes de um episódio podem ser: mudanças de emprego, de cidade ou de país, separações, divórcio, perda de ente querido, descoberta de doenças graves, entre outros.
Muito freqüentemente ouvimos falar da depressão após a morte de um ente querido. Entretanto, é preciso compreender que mesmo que os sintomas do quadro depressivo existam, temos que associar este episódio depressivo ao período de luto normal do indivíduo. Estudos psicológicos já demonstraram que todos nós passamos por algumas "fases" emocionais após perder uma pessoa querida. Estas fases incluem sentimentos de muita tristeza, perda do interesse e prazer em viver, além de raiva, frustração e revolta. Esses momentos emocionais são esperados e fazem parte deste processo normal de elaboração psíquica da perda e devem ser observados ao tentarmos elucidar um caso "real" de depressão.

O parto também pode se transformar em um evento desencadeante de um episódio depressivo. Aqui também é necessário distinguirmos a depressão do conhecido "baby blues", ou a tristeza pós-parto, que dura aproximadamente 10 -15 dias e afeta quase 70% das mulheres. Este tipo de sentimento é normal e até esperado nesse momento da vida. Além da tristeza, mesmo estando diante do novo bebê, as mulheres se deparam com uma grande insegurança, muitas dúvidas e medos sobre sua capacidade de compreender e atender às demandas da maternidade.

Tratamento

Atualmente já existem muitos medicamentos capazes de tratar a depressão, sem expor o indivíduo de maneira agressiva aos efeitos colaterais das drogas. O tratamento medicamentoso só deverá ser feito pelo médico psiquiatra, diante de uma estudo e acompanhamento minucioso do caso.
As terapias psicológicas também vêm se revelando cada vez mais como um grande aliado nos tratamentos médicos. Busca-se no tratamento psicoterápico a compreensão de aspectos da personalidade e da forma de se comportar e viver do indivíduo, que podem estar interferindo na sua melhora e no seu bem-estar.

É importante lembrar que o tratamento da depressão se dá de forma gradativa. No início do uso da medicação é comum uma melhora considerável do indivíduo, mas outras fases regressivas poderão surgir. Deve-se ter em mente que esses altos e baixos podem ocorrer durante o tratamento, e que gradativamente o indivíduo vai encontrando um equilíbrio. O uso correto da medicação associado ao trabalho psicológico vai proporcionando momentos de maior bem-estar e disposição, fases que com o tempo vão se tornando mais constantes até que se atinja uma certa normalidade.

A medicalização do sofrimento

Diversos pesquisadores em saúde mental vêm alertando para o problema da medicalização excessiva ou da imagem difundida de que os medicamentos podem resolver todos os problemas e sofrimentos psíquicos. A busca pelo alívio imediato dos sintomas, de preferência indolor, nos remete a características da nossa atual cultura e sociedade. O consumo exagerado, imediatista, a opressão pelas conquistas de idéias de beleza de tratamento.

Vale lembrar que os medicamentos têm a função de auxiliar o indivíduo na melhora de seu funcionamento físico, o que inclui o funcionamento cerebral. Porém, não tratamos somente de cérebros, e sim de pessoas que também reagem a um tratamento humano como o desempenhado pela psicoterapia e psicanálise. Ao abrirmos essa possibilidade do encontro humano, podemos oferecer uma nova escuta da dor mental e, conseqüentemente, um alívio das angústias na medida em que o homem passa a conhecer melhor os seus conflitos e sua própria história.
BEM ESTAR DA MULHER