domingo, 23 de outubro de 2011

Liderança feminina e a culpa de crescer

Na estrada para a liderança feminina, podemos encontrar inúmeros motivos que nos levam a ficar pelo caminho: estatísticas, discrepância salarial, falta de oportunidades. Todos estes obstáculos são reais, mas hoje quero falar do que acontece dentro de nós. Nossos maiores inimigos são internos. Se os combatermos, ficamos mais fortes para encarar o mundo exterior.

Acredito que um grande entrave para o crescimento profissional da mulher é a culpa que ela carrega, ainda que de forma inconsciente, por não estar no lar. A culpa acontece quando temos dentro de nós crenças que destoam da nossa vivência.

Vivemos culpadas porque trabalhamos, estudamos, temos filhos, viajamos a trabalho. Mas faço uma pergunta: Nossas avós (que tinham dez ou mais filhos) dedicavam mais ou menos tempo por criança no seu dia-a-dia?

De certa forma estes dez filhos também tinham mães ocupadas com outros afazeres. Ainda que sejam de cuidar dos outros filhos e dos afazeres domésticos.

Hoje temos em média apenas dois filhos, e porque trabalhamos nos sentimos culpadas por não conseguir suprir as necessidades demandadas por eles. Pergunte às suas avós se no tempo delas era papel do pai ou da mãe brincar com seus filhos. Já te adianto que na maioria das vezes a resposta será negativa. Mas ainda sim, nos sentimos culpadas porque não brincamos o suficiente, por não estarmos pertos o suficiente. Mas o que significa mesmo a palavra suficiente?

Outra culpa que ainda perdura é a do papel de dona de casa: Antigamente as mulheres passavam o dia cuidando da casa. Mas pergunte para essas mulheres se elas tinham máquinas de lavar louça, roupa, secadora, microondas e vários objetos que encurtam o trabalho doméstico. O que quero dizer é: Ainda faz sentido carregar o mesmo modelo mental se o mundo e o próprio ofício mudaram tanto?

Encontro mulheres absolutamente esgotadas porque precisam trabalhar, educar seus filhos e ainda sentem culpa quando encontram a casa bagunçada. Com isso elas passam o final de semana limpando a casa em vez de dormir, descansar, namorar e passear com as pessoas que amam. Este é um fardo muito pesado! Não é a toa que a média de idade de mulheres com câncer e problemas cardíacos tenha caído tanto.

Pra mim está claro o problema: Ele se chama anacronismo. Acontece quando transportamos valores de outro tempo para o nosso. Hoje não faz sentido carregar o mesmo senso de dever de um mundo que não existe mais, vivemos num novo mundo sob uma nova dinâmica.

O problema é que sempre o mundo muda mais rápido que nossa cultura e nossos padrões mentais, e o resultado é toda uma geração de mulheres, que em maior ou menor grau, se sentem culpadas por trabalhar, ter um lar e filhos.

A questão não é fácil de ser resolvida. Acredito que podemos desempenhar vários papéis, mas precisamos saber priorizar, planejar e porque não: renunciar. Pessoalmente, se por um lado tenho uma vida profissional intensa; por outro eu já adiei, cursos, mestrados, viagens a até sonhos para ser mãe e esposa. Até hoje limito minha agenda profissional em prol destes outros papéis.

Sigo em frente, não sei qual será o resultado, mas sei que as escolhas são minhas e ninguém deve pagar por elas, pois fiz isso por mim, pela mulher que escolhi ser, e tento viver uma vida plena, cheia de papéis e sem culpa.

Enfim, diante de tantos sugestionamentos e influências que nos dizem o que é certo e o que é errado, Tenho uma sugestão: vamos nós, mulheres dizer o que é certo e o que é errado dentro da nossa realidade; dentro das possibilidades que temos dentro e fora de nós, e na medida do possível viver uma vida sem culpa e cheia de significado. Você aceita o desafio?

A melhor maneira de mudar o padrão de vida é melhorar o padrão de pensamento (Andressen)

Monica Hauck