quarta-feira, 6 de abril de 2011

Timidez pode criar barreiras para o desenvolvimento pessoal

O coração que dispara, as mãos que tremem, a voz que falha, as palavras que somem, o rubor que toma conta da face, o medo de errar e ser ridicularizado, a insegurança e vergonha são reações e sentimentos familiares aos tímidos diante de determinadas situações sociais.

Frequentemente, o tímido encontra muitas dificuldades ao se expor para um grupo, para uma pessoa importante ou, até mesmo, ao investir afetivamente em alguém. Essas dificuldades e sentimentos são muitas vezes paralisantes e ultrapassar essas barreiras pode ser doloroso, exigindo um grande gasto de energia, principalmente, em uma sociedade onde a extroversão, a exposição e as redes de relacionamento (incluindo o networking) são valorizadas para se obter sucesso e ser reconhecido.

A timidez é um complexo processo de dificuldades de relacionamento interpessoal, que afeta diferentes áreas da vida: afetiva, profissional, emocional e social; manifestando-se no corpo, na mente, no pensamento e no "eu".

Na maioria das vezes, a autopercepção para o tímido é marcada por distorções negativas associadas a sentimentos, atitudes e comportamentos de menos valia que levam o indivíduo a criar uma série de medos e fantasias a respeito de si mesmo e dos riscos envolvidos na auto-expressão, seja verbal ou gestual.

No dia a dia, encontramos uma quantidade considerável de pessoas que se declaram tímidas ou inibidas em situações sociais. Observamos também diversos níveis, desde as pessoas que se demonstram tímidas em poucas situações até pessoas com comprometimentos sociais significativos.

Porém, é importante ressaltar que a timidez não é uma doença social ou mental, tanto que não está listada no DSM-IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4º Ed) e nem no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças - 10ª. Rev.), diferentemente da fobia social.

Embora algumas manifestações somáticas sejam semelhantes e a ansiedade social esteja presente tanto na timidez quanto na fobia social, existem diferenças consideráveis entre cada uma dessas condições. Na fobia social, os ataques de ansiedade são muito mais intensos, com grandes possibilidades de ocorrência de ataque de pânico e necessidade de fugir do ambiente, levando o indivíduo a perder a noção de si mesmo. Outra característica do fóbico social, que não observamos no tímido, é a auto-avaliação negativa em todas as situações interativas com o outro, percepção do "outro" como uma ameaça constante, um inimigo pronto para "tirar proveito". Em outras palavras, a fonte do perigo para o tímido é interna e não externa como para o fóbico.

Também é muito comum no dia a dia a confusão entre timidez e introversão, pois ambos apresentam características semelhantes, como: verbalização restrita, retraimento e fuga de aglomerações, mas existem diferenças significativas entre o tímido e o introvertido, o que não quer dizer que uma característica exclua a outra.

Jung foi um dos teóricos que mais se aprofundou no estudo da introversão e, ao longo do seu trabalho, observou que existem pessoas com atitudes diferentes e que se relacionavam de maneiras diversas com o mundo exterior e interior.

As pessoas que possuem uma personalidade extrovertida geralmente focam sua atenção no mundo externo. De forma objetiva se orientam de acordo com o ambiente, construindo seus valores e subordinando os processos subjetivos ao objeto. Já para as pessoas que possuem uma atitude introvertida, o centro de atenção é o próprio mundo interno e se orientam através das suas próprias impressões, emoções e pensamentos.

A introversão é uma capacidade saudável de entrar em sintonia com o mundo interior. Enquanto os introvertidos possuem habilidades sociais, buscando isolamento para repor e/ou reter sua energia. O tímido usa o isolamento como fuga, devido ao medo de julgamento e falta de autoconfiança diante de situações sociais que exigem interação. No tímido, o sofrimento é provocado justamente pelo conflito entre o desejo pelo contato social e a inibição que o impede e bloqueia.

Alguns estudos observam a predominância da atitude introvertida entre os tímidos, contudo, não podemos afirmar que sempre ocorre a predominância desta atitude em sua psique. Uma criança extrovertida pode vir a ser tímida, não desenvolvendo o que a princípio seria a sua atitude principal, por influência do meio.

A timidez pode em muitos aspectos dificultar e criar barreiras para o desenvolvimento individual, no entanto, não é uma característica determinante para o fracasso. As barreiras e as dificuldades podem ser superadas com o empenho pessoal, pois existe a flexibilidade da natureza humana capaz de se ajustar às demandas do ambiente e isso é comprovado pelo grande número de pessoas que conseguem enfrentar a timidez.

Contudo, é importante destacar que esse enfrentamento é um processo que exige da pessoa maior conhecimento de si mesma, das próprias crenças, dificuldades e principalmente das próprias potencialidades.


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