segunda-feira, 19 de julho de 2010

Exercícios ajudam no tratamento de dependência de álcool

O abuso de bebidas alcoólicas é um dos fatores que mais contribuem para a desregulação do ritmo circadiano – o ciclo natural do sono – e esse desequilíbrio pode levar a um maior abuso de álcool, gerando um grande círculo vicioso que pode até mesmo comprometer pacientes em tratamento para recuperação.
O ritmo circadiano nos mamíferos é regulado pela luz, assim como tem influência da alimentação, interações sociais e níveis de exercícios físicos. Um novo estudo relacionou o consumo abusivo de álcool e a utilização de uma rotina de exercícios físicos como alternativa para regular o sono e, consequentemente, controlar impulsos na ingestão de bebidas alcoólicas.

“O abuso de álcool, caracterizado pela busca incessante e consumo descontrolado dessas bebidas, desregula completamente os ciclos circadianos – que envolvem, além do sono, o ciclo alimentar durante o dia”, explica David Glass, pesquisador da Universidade Estadual de Kent, EUA, e cujo estudo foi publicado no periódico Alcoholism: Clinical & Experimental Research.

“Com o abuso contínuo do álcool, há variações diversas nos horários de dormir, qualidade do sono e desequilíbrio alimentar. Isso se torna um círculo vicioso, em que o sono e o apetite desequilibrados podem contribuir para uma maior necessidade de consumo de bebidas”, explica Glass.

Alan Rosenwaser, da Universidade do Maine, também nos EUA, concorda com Glass. “O abuso de álcool e a desregulação circadiana se tornam reciprocamente destrutivas e o resultado na saúde física e emocional é desastroso”, diz.

Exercícios regulam o relógio biológico e substituem outras fontes de prazer

Os resultados da pesquisa, feita com modelos animais, mostrou que uma rotina de exercícios físicos ajudava a melhorar a saúde do cérebro, normalizando os ritmos circadianos, assim como o bem-estar emocional.

“Além disso, observamos que restringir os exercícios nos animais observados – mesmo quando esses queriam fazer algum tipo de atividade mais intensa – levava-os a procurar e consumir mais álcool”, diz Glass. “Ao contrário, quando os animais eram estimulados a fazer atividades físicas, eles procuravam consumir menos soluções alcoólicas. Isso pode indicar que uma rotina de exercícios físicos pode ser um potencial tratamento, sem intervenção farmacológica, para o alcoolismo.”

A hipótese do pesquisador é de que ambos os hábitos – consumo de álcool e exercícios – fazem parte do mesmo sistema de recompensa do cérebro, ou seja, estimulariam os centros de prazer neurológicos. E um poderia ser substituído pelo outro.

A dopamina, que é um neurotransmissor liberado pelo cérebro em resposta a algo prazeroso – incluindo exercícios, sexo, jogos, compras compulsivas ou mesmo drogas e consumo alimentar – pode ser a chave para isso tudo. Ao fazer que o cérebro libere a dopamina por meio do exercício físico, o indivíduo pode ficar menos suscetível ao consumo de álcool, drogas e mesmo controlar os impulsos alimentares.

“Mas assim como tudo o que provoca prazer e traz algum tipo de recompensa, os exercícios também devem ser feitos com certa moderação, de forma que não interfira com a vida desses indivíduos”, indica o pesquisador.

Outra descoberta feita pela equipe de Glass é o fato de que os animais que consumiam mais álcool também eram menos sensíveis aos efeitos da luz sobre o sono (que é outra forma do corpo indicar ao organismo os horários para dormir e acordar). Isso, dizem os pesquisadores, também é outro indício de que ciclos de sono e dependência química podem compartilhar diversos outros mecanismos.

“Muitas pessoas – mesmo profissionais de saúde – ainda relacionam a dependência de álcool como falhas de caráter ou falta de ‘força de vontade’ das pessoas. Nossas descobertas ajudam a colocar esse vício de volta aos contextos biológicos e mostram como fatores ambientais e fisiológicos influenciam nesse consumo de bebidas alcoólicas. E para controlar esse tipo de abuso é preciso observar como as pessoas se comportam e agir para equilibrar esses fatores”, finaliza.

Informações da Kent State University e da University of Maine