Elas têm um impacto nas nossas emoções. E a que ponto! Pesquisadores alemães comprovaram que usar uma camiseta vermelha pode valer tanto quanto o bom preparo físico na hora de vencer um jogo
Os chineses devem estar certos em considerar o vermelho a cor da sorte. E agora a ciência assina embaixo — ao menos para esportistas. Uma pesquisa conduzida pelo Departamento de Psicologia do Esporte da Universidade de Münster, na Alemanha, observou que o uso de indumentárias dessa cor aumentava as chances de vencer numa luta marcial.
Os cientistas mostraram a 42 experientes árbitros dessa prática esportiva vídeos de combates em que um atleta vestia vermelho e o outro, azul. Depois, usando os mesmos vídeos, mas trocando a cor da vestimenta por meio de manipulação digital, os cientistas apresentaram novamente as imagens aos juízes. Resultado: eles deram 13% mais vitórias aos competidores de vermelho. “O experimento constata que existe realmente uma preferência do cérebro por essa cor”, diz Christina Joselevitch, pesquisadora do Laboratório de Psicofi siologia Sensorial do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Embora essa não seja a primeira vez que a coloração carmim influencie no esporte — anos atrás antropólogos da Universidade de Durham, no Reino Unido, avaliaram os jogos das Olimpíadas de Atenas e constataram que, quando os atletas tinham o mesmo preparo físico, o fato de o uniforme ser colorado ajudava a desempatar a competição. “O tom vermelho intimida. Da mesma forma que cobrir-se com ele pode melhorar a autoconfi ança”, afi rma Christina.
A predileção por essa cor teve início no nosso processo evolutivo. “Há 30, 40 milhões de anos, após um grande degelo, surgiram as primeiras frutas coradas, e, para distingui-las, os primatas sofreram uma mutação na retina. Antes só enxergavam o azul e o verde”, explica a pesquisadora. As mucosas do corpo também fi cam mais rubras quando excitadas. Por tudo isso faz sentido interpretar a tonalidade sanguínea como a da sobrevivência ou, em outro extremo, a do perigo — o rubor na face de alguém enraivecido que o diga —, além de estar associada à reprodução. Ah!, sim, o adjetivo picante do matiz tem tudo a ver com esse último tópico.
Vivemos em um mundo colorido. E, mesmo que a gente mal repare, as cores tingem nosso campo de visão e invadem o cérebro, infl uenciando-o para o bem ou para o mal, quer você queira, quer não. Mas, depois de saber que o matiz do fogo incendeia nossas emoções, a pergunta que se segue é: como as outras cores afetam nossa mente e bem-estar?
A curiosidade de muitos cientistas ainda não foi saciada. “Embora a pesquisa alemã tenha confi rmado que interpretamos as tonalidades de forma diferente, falta o embasamento para explicar por que uma parede amarelo ovo incomoda muito mais gente do que um tom de palha, por exemplo”, brinca Christina Joselevitch.
A neurocientista Claudia Feitosa Santana, que desenvolve seu pós-doutorado em visão humana das cores na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, tem, no entanto, uma boa justificativa para nos sentirmos bem em lugares claros: “Precisamos da luz do dia. E o que é essa luz? Fisicamente é uma somatória de todas as frequências de onda que formam o espectro solar e que resulta em branco”. Daí o conforto de ambientes cândidos. “Mas, detalhe, se o tom for asséptico, impessoal demais, a sensação poderá ser desagradável, justamente porque se distancia da luz natural”, diz.
Explorar essa ação cromática é uma missão para especialistas em marketing, semiótica, a ciência dos símbolos, ou arquitetura. Seja na hora de bolar um anúncio, sinalizar o perigo, decorar a casa, seja para tornar um hospital menos árido. Nesse último caso, a escolha de mensagens calmas como o azul e o verde-água tem a intenção de apaziguar o paciente. Já o rosa ou o escarlate podem levar à confusão em um diagnóstico. “Esse problema já aconteceu em uma ala pediátrica com paredes rosadas. É que o rosa, como o vermelho, provoca um efeito colateral que é o de esverdear o entorno, até a pele”, alerta Claudia.
O crédito das cores nunca está, é bom frisar, destacado do seu contexto. Isso interfere enormemente na percepção visual. “E é um dos maiores motivos pelos quais é muito difícil afi rmar que tal cor é melhor ou pior para determinada coisa”, esclarece Claudia. A pesquisadora se refere principalmente às experiências que podem alterar uma qualidade. Se você morava numa casa laranja e foi muito infeliz lá, pode ser que não queira usar esse tom na sua roupa.
“As cores são interpretações do nosso cérebro, que reúne informações das frequências de ondas recebidas e os dados guardados na nossa memória”, traduz Edson Amaro, responsável pelo Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, e professor do Departamento de Radiologia da Universidade de São Paulo. Em resumo: cor é vital, mas não é tudo. Se fosse, o Brasil nunca seria pentacampeão do mundo vestindo azul e amarelo. A Rússia teria mais chances. Bem Estar
Os chineses devem estar certos em considerar o vermelho a cor da sorte. E agora a ciência assina embaixo — ao menos para esportistas. Uma pesquisa conduzida pelo Departamento de Psicologia do Esporte da Universidade de Münster, na Alemanha, observou que o uso de indumentárias dessa cor aumentava as chances de vencer numa luta marcial.
Os cientistas mostraram a 42 experientes árbitros dessa prática esportiva vídeos de combates em que um atleta vestia vermelho e o outro, azul. Depois, usando os mesmos vídeos, mas trocando a cor da vestimenta por meio de manipulação digital, os cientistas apresentaram novamente as imagens aos juízes. Resultado: eles deram 13% mais vitórias aos competidores de vermelho. “O experimento constata que existe realmente uma preferência do cérebro por essa cor”, diz Christina Joselevitch, pesquisadora do Laboratório de Psicofi siologia Sensorial do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Embora essa não seja a primeira vez que a coloração carmim influencie no esporte — anos atrás antropólogos da Universidade de Durham, no Reino Unido, avaliaram os jogos das Olimpíadas de Atenas e constataram que, quando os atletas tinham o mesmo preparo físico, o fato de o uniforme ser colorado ajudava a desempatar a competição. “O tom vermelho intimida. Da mesma forma que cobrir-se com ele pode melhorar a autoconfi ança”, afi rma Christina.
A predileção por essa cor teve início no nosso processo evolutivo. “Há 30, 40 milhões de anos, após um grande degelo, surgiram as primeiras frutas coradas, e, para distingui-las, os primatas sofreram uma mutação na retina. Antes só enxergavam o azul e o verde”, explica a pesquisadora. As mucosas do corpo também fi cam mais rubras quando excitadas. Por tudo isso faz sentido interpretar a tonalidade sanguínea como a da sobrevivência ou, em outro extremo, a do perigo — o rubor na face de alguém enraivecido que o diga —, além de estar associada à reprodução. Ah!, sim, o adjetivo picante do matiz tem tudo a ver com esse último tópico.
Vivemos em um mundo colorido. E, mesmo que a gente mal repare, as cores tingem nosso campo de visão e invadem o cérebro, infl uenciando-o para o bem ou para o mal, quer você queira, quer não. Mas, depois de saber que o matiz do fogo incendeia nossas emoções, a pergunta que se segue é: como as outras cores afetam nossa mente e bem-estar?
A curiosidade de muitos cientistas ainda não foi saciada. “Embora a pesquisa alemã tenha confi rmado que interpretamos as tonalidades de forma diferente, falta o embasamento para explicar por que uma parede amarelo ovo incomoda muito mais gente do que um tom de palha, por exemplo”, brinca Christina Joselevitch.
A neurocientista Claudia Feitosa Santana, que desenvolve seu pós-doutorado em visão humana das cores na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, tem, no entanto, uma boa justificativa para nos sentirmos bem em lugares claros: “Precisamos da luz do dia. E o que é essa luz? Fisicamente é uma somatória de todas as frequências de onda que formam o espectro solar e que resulta em branco”. Daí o conforto de ambientes cândidos. “Mas, detalhe, se o tom for asséptico, impessoal demais, a sensação poderá ser desagradável, justamente porque se distancia da luz natural”, diz.
Explorar essa ação cromática é uma missão para especialistas em marketing, semiótica, a ciência dos símbolos, ou arquitetura. Seja na hora de bolar um anúncio, sinalizar o perigo, decorar a casa, seja para tornar um hospital menos árido. Nesse último caso, a escolha de mensagens calmas como o azul e o verde-água tem a intenção de apaziguar o paciente. Já o rosa ou o escarlate podem levar à confusão em um diagnóstico. “Esse problema já aconteceu em uma ala pediátrica com paredes rosadas. É que o rosa, como o vermelho, provoca um efeito colateral que é o de esverdear o entorno, até a pele”, alerta Claudia.
O crédito das cores nunca está, é bom frisar, destacado do seu contexto. Isso interfere enormemente na percepção visual. “E é um dos maiores motivos pelos quais é muito difícil afi rmar que tal cor é melhor ou pior para determinada coisa”, esclarece Claudia. A pesquisadora se refere principalmente às experiências que podem alterar uma qualidade. Se você morava numa casa laranja e foi muito infeliz lá, pode ser que não queira usar esse tom na sua roupa.
“As cores são interpretações do nosso cérebro, que reúne informações das frequências de ondas recebidas e os dados guardados na nossa memória”, traduz Edson Amaro, responsável pelo Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, e professor do Departamento de Radiologia da Universidade de São Paulo. Em resumo: cor é vital, mas não é tudo. Se fosse, o Brasil nunca seria pentacampeão do mundo vestindo azul e amarelo. A Rússia teria mais chances. Bem Estar