sábado, 23 de janeiro de 2010

O DERRAME CEREBRAL: NOVAS PERSPECTIVAS

Derrame cerebral, nome popular de acidente vascular cerebral ou simplesmente AVC., é a doença neurológica mais comum, constituindo-se em grave ameaça para o idoso. É uma importante causa de morte na velhice e também uma importante fonte de seqüelas. Pode ocorrer em qualquer idade, mas é muito mais freqüente em pessoas com mais de 65 anos. Em 80% dos casos são isquêmicos, isto é, são devidos a súbita falta de sangue em determinada região do cérebro, sem hemorragia. Os hemorrágicos (por ruptura de artéria ou de aneurisma) são mais raros e em geral mais graves, sendo o coágulo intracerebral glossário uma complicação importante. No jovem a causa mais comum de hemorragia cerebral é o aneurisma intracraniano.

Cerca de 30 % das vezes, o AVC leva à morte. Algumas pessoas, também cerca de 30% dos casos, ficam com seqüelas importantes que exigem cuidados especiais. Outros 30% dos casos tem boa evolução com poucas ou mesmo ausência de seqüelas . Setenta por cento dos casos ocorrem acima dos 65 anos de vida e há uma pequena predominância de homens. A raça negra é duas vezes mais atingida do que a branca.

Até bem pouco tempo não havia tratamento específico para o derrame cerebral, e o que se fazia era tratar as seqüelas. Algumas substâncias como a cortisona e os bloqueadores de cálcio tem sido úteis nas hemorragias cerebrais. Em algumas situações especiais há necessidade de se realizar neurocirurgia, como na retirada de um coágulo ou na clipagem de um aneurisma.

Recentemente surgiram novas perspectivas no tratamento da isquemia cerebral. A utilização de substâncias que destroem os trombos ou trombolíticas e o aparecimento de medicamentos que protegem a célula nervosa trazem novo alento ao tratamento do derrame cerebral do tipo isquêmico.

rtPA - O rtPA ou ativador do plasminogênio tecidual recombinado é uma substância que destrói o trombo (trombolítica) instantaneamente, desobstruindo a artéria, já sendo utilizada há algum tempo para o tratamento do infarto agudo do miocárdio. Deve ser utilizada nas primeiras horas da doença, e nunca em acidente vascular cerebral hemorrágico. A identificação dos primeiros sintomas da doença, como formigamentos em um lado do corpo e problemas visuais, por exemplo, são muito importantes para seu rápido diagnóstico. É fundamental a realização de tomografia cerebral para a exclusão de infarto cerebral hemorrágico. A isquemia cerebral deve ser, então, considerada uma urgência medica.

NEUROPROTETORES - Estão também em desenvolvimento, já em fase de serem lançados comercialmente, medicamentos neuroprotetores, que protegem a célula nervosa contra a ação da falta de sangue ou isquemia. Citicolina e Atiganel são denominados medicamentos neuroprotetores que sem duvida terão contribuição importante no tratamento da doença vascular cerebral e estão em vias de serem lançadas comercialmente.

PET-SCAN - Novas observações quanto à função cerebral também despontam como muito promissoras. O estudo das lesões cerebrais, principalmente no que diz respeito a sua extensão e evolução, está ganhando nova dimensão. O tomógrafo denominado PET-SCAN, que utiliza a emissão de pósitron, tem a capacidade de avaliar detalhadamente o metabolismo de qualquer região do cérebro, permitindo traçar prognósticos precisos quanto à lesão cerebral, bem como permite o acompanhamento detalhado do seu tratamento. Graças a este aparelho poderemos observar detalhadamente a função cerebral, desde o ato de falar como o de pensar, por ex. Ainda há poucos PET-SCAN em funcionamento no mundo.

ENDARTERECTOMIA - A desobstrução das artérias carótidas através de cirurgia denominada endarterectomia é uma prática muito antiga (desde 1954), inicialmente muito utilizada, mas que durante um longo período esteve em desuso devido a observação de importantes complicações que ocorriam no período perioperatório. Atualmente a indicação de endarterectomia da artéria carótida está bem estabelecida, sendo observado pequeno numero de complicações, devendo ser realizada em pacientes que apresentaram sintomas neurológicos transitórios e que tenham uma oclusão da artéria entre 70 a 99%. O resultado da cirurgia nestes casos é superior quando comparado ao tratamento clínico com medicamentos. Alguns serviços norte-americanos estão indicando a cirurgia em oclusões menores de 70%. Evidentemente os melhores resultados ocorrem nos serviços que apresentam maior experiência e que possuem os profissionais com melhor habilidade.

CIRURGIA ENDOVASCULAR - O tratamento de aneurisma e de mal formações intracranianas com a utilização de cateteres especiais já pode ser considera uma prática habitual em muitos serviços de neurocirurgia. São procedimentos extremamente simples, que utilizam tubos de plástico especiais e raios-x, e que evitam a abertura cirúrgica do crânio. Este procedimento também já está sendo utilizado para a desobstrução de artérias intracranianas com bons resultados.

UTI ESPECIALIZADA - Vários hospitais gerais estão montando Unidades Especiais para o atendimento do Acidente Vascular Cerebral. São UTIs voltadas aos cuidados especiais para com o doente que sofreu o derrame cerebral, cujas vantagens e desvantagens estão sendo muito discutidas. Tais unidades permitem um melhor controle hemodinâmico dos pacientes, permitem um tratamento eficiente de complicações trombo-embólicas e possibilitam um inicio precoce de mobilização. O alto custo é importante fator negativo.

PREVENÇÃO - Apesar de todas estas novidades que surgem no tratamento do acidente vascular cerebral, ainda é a prevenção o principal fator atuante sobre a doença. A identificação correta do risco deve ser preocupação permanente do medico que, através de exame minucioso, deve destacar as possibilidades da doença. A identificação de arteriosclerose familiar, o estudo cuidadoso do coração e das artérias, procurando arritmias e sopros. O exame do fundo de olho, sempre fundamental para a avaliação do estado das artérias. O controle da hipertensão arterial e do diabetes, bem como do colesterol e do peso. A eliminação do tabagismo e da vida sedentária e o combate continuo ao stress. Muitas vezes há necessidade de orientação da dieta apropriada e também do uso de medicamentos.

Graças a uma agressiva política preventiva visando o controle dos fatores de risco para a doença vascular observa-se uma queda da mortalidade da doença nos Estados Unidos da América. Observa-se também uma queda importante na prevalência da hipertensão arterial, do tabagismo e da hipercolesterolemia.

O melhor resultado no tratamento do derrame cerebral nunca será igual ao daquele que teve sua doença prevenida.

DR JOÃO ROBERTO D. AZEVEDO