quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Estimule a criança com Síndrome de Down

A probabilidade de uma criança nascer com Síndrome de Down no Brasil, independente de qualquer fator de risco, é de 0,001%. "Entretanto, fatores como a idade do casal (abaixo de 18 e acima dos 35 anos), histórico familiar de Alzheimer e até problemas de tireóide aumentam a chances de modificação do código genético, originando uma terceira cópia do cromossomo 21, o que origina a síndrome", explica o geneticista e pediatra Zan Mustacchi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo (CEPEC-SP).

Após o diagnóstico, os pais são auxiliados sobre como lidar com o filho portador do acidente genético, mas muitas vezes ficam na dúvida sobre como estimular a criança. "Não existem graus de síndrome de Down, como acontece cm o autismo. As diferenças de desenvolvimento decorrem de características como herança genética, educação e estímulos do meio ambiente", afirma a psicóloga Luciana Mello, da Fundação Síndrome de Down, em Campinas.

Superproteção e excesso de cuidados, na maioria dos casos, são os inimigos do crescimento emocional, social e intelectual da criança. Para ver como dosar sua preocupação sem prejudicar o amadurecimento infantil, veja as dicas dos especialistas.

Fala e linguagem
Quando os bebês começam a compreender o que é dito e já demonstram algum tipo de linguagem, passam a insistir para que a mesma história e a mesma brincadeira sejam repetidas à exaustão. Isso acontece porque eles gostam mais do que é familiar - daí o estranhamento a pessoas alheias à convivência. "A repetição ajuda a fixar informações", diz o geneticista.

Ele recomenda que o adulto tente dar exemplos do que conta. "Se estiver falando de uma casa, aponte para uma. Se falar de um cachorro, mostre um. As crianças aprendem primeiro com os olhos e, depois, com a audição", diz. Outro conselho do pediatra é não falar muito lentamente com a criança e, caso ela tenha problemas de dicção, buscar ajuda com um fonoaudiólogo.

Escola e colegas
De acordo com a psicóloga Luciana, o momento ideal para se colocar uma criança com síndrome de Down na escola é o mesmo de qualquer criança: quando ela começa a falar. Ela vai aprender desde o básico, como avisar que está com fome ou que precisa ir ao banheiro, como elaborar formas mais complexas de comunicação, emitindo opiniões e criando novos relacionamentos. A pediatra afirma que atualmente há uma lei que exige que crianças com síndrome de Down sejam matriculadas em escolas regulares, pois a escola especial é segregadora e não possibilita a inclusão.

Já o geneticista Zan aconselha que ela frequente apenas a escola regular na infância e, no começo da adolescência, passe a cursar a escola especial. "A criança com Down deve manter vínculos com pessoas de diferentes lugares, mantendo o vínculo por causa de interesses comuns", explica. Os pais, no entanto, devem ficara tentos à marginalização e ao preconceito que podem surgir nas escolas regulares e procurar a coordenação caso notem qualquer tipo de atitude negativa vinda dos alunos ou dos funcionários, incluindo o professor.

Atividades físicas
Crianças com síndrome de Down estão sujeitas a uma condição chamada de hipotonia, ou seja, de baixo tônus muscular. Isso dificulta a realização de tarefas que exigem contração contínua, passiva ou parcial, como manter a postura, por exemplo. "A hipotonia não pode ser curada nem evitada, mas por meio de fisioterapia é possível fortalecer essa musculatura", afirma Luciana.

Zan Mustacchi também é a favor do incentivo a atividades físicas. "A prática de exercícios não só estimula o corpo, como insere a criança em mais um círculo de convivência. Os esportes de contato, mais agressivos, devem ser evitados até os sete anos, porque a criança pode se machucar mais facilmente". Até esta idade, o ideal é estimular brincadeiras e joguinhos para trabalhar a coordenação motora.

Nutrição
A alimentação recomendada a uma criança com síndrome de Down é aquela em que há presença de todos os grupos alimentares de forma balanceada, como para qualquer criança. Entretanto, dependendo do grau de hipotonia, a mastigação e a digestão podem ser mais lentas. Uma nutricionista consegue avaliar se existe a necessidade de alguma adaptação, evitando dores de estômago ou dificuldades intestinais.

Imunização
O geneticista Zan diz que a primeira recomendação a uma mãe que teve um filho com síndrome de Down é que ele seja amamentado pelo maior tempo possível, pois o leite materno é um alimento altamente nutritivo que permite a passagem de anticorpos para a criança. Outro ponto fundamental é em relação às vacinas. "Por, em geral, ter um sistema imunológico alterado e problemas respiratórios, ela deve tomar as tradicionais e algumas que só são aplicadas em sistemas particulares de saúde, como a contra a hepatite A e a contra a varicela ou catapora", explica o especialista. lgumas das vacinas extras são caras, mas o Sistema Público de Saúde fornece todas gratuitamente a mães que fizerem a solicitação. Converse com seu médico.

Inclusão social
"A superproteção é a maior barreira contra o desenvolvimento de uma criança com síndrome de Down", alerta Luciana Mello. Segundo ela, isso faz com que os pais e a sociedade infantilizem o indivíduo, impedindo que ele vivencie diferentes etapas da vida, desde a infância, passando pela descoberta da sexualidade, até o completo amadurecimento. Inscrever a criança num grupo de atividade física ou estimular o aprendizado somente em escolas especiais, por exemplo, diminuem as chances de que ela conviva com a diferença e faça mais amigos.

Laura Tavares