Uma droga que se liga aos receptores de dopamina pode ser capaz de estimular um cérebro comprometido, permitindo que certos pacientes em estado vegetativo, ou de mínima consciência, possam se recuperar mais rápido.
Esteban Fridman do Hospital Fleni, em Buenos Aires, acredita que o cerne do problema desses pacientes resida na conecção neural. Nesses casos, os axônios estão tão danificados que dificultam o transporte de sinais químicos (neurotransmissão) de neurônio para neurônio. Os axônios são interrompidos quando sofrem pressões como impactos cranianos (quando um lutador é atingido na cabeça ou um motorista bate a cabeça em um acidente de carro).
Como possível tratamento para esses danos, Fridman centrou-se sobre a apomorfina, que se liga aos receptores de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor conhecido por seu papel na doença de Parkinson e faz parte do mecanismo de controle comportamental da excitação e motivação, mas também desempenha um papel em distúrbios de consciência.
Fridman supôs que a apomorfina pode agir no lugar de dopamina, irrigando um cérebro comprometido com um produto químico que possa estimulá-lo o suficiente para reparar as conexões e permitir que pacientes voltem ao estado de consciência. Ele observa que a droga não iria funcionar nos casos em que o cérebro tenha sido privado de oxigênio ou de sangue, pois os danos seriam mais profundos. Terri Schiavo, moradora da Flórida cujo caso gerou uma polêmica nacional que atingiu o pico em 2005 (quando faleceu), estava em um estado vegetativo desde 1990 causado por esse mesmo tipo de lesão.
Fridman escolheu a apomorfina porque ela atinge diretamente os receptores de dopamina no cérebro, mesmo que a capacidade do próprio corpo para fazer a neurotransmissão esteja danificada. A apomorfina também se liga a vários tipos de receptores de dopamina. Algumas outras drogas, como a levodopa (L-dopa), são convertidas em dopamina pelo organismo (em vez de agirem diretamente sobre os receptores). Por isso, esse mecanismo de conversão faz com que essas drogas sejam menos úteis. Outras drogas, como a amantadina, aumentam a produção celular de dopamina, mas se essas células forem danificadas ou se tornarem menos ativas, só poderão ser produzidas até certo momento. Algumas outras se ligam apenas aos receptores determinados de dopamina.
Em 2004, Fridman tentou usar apomorfina em um paciente que estava em um estado de consciência mínima há 104 dias. Depois que a droga foi utilizada, a mãe do paciente telefonou para Fridman para lhe dizer que seu filho tinha acordado apenas 24 horas depois do uso da droga.
Ao longo dos anos, Fridman e seu colega Ben Zion Krimchansky, do Centro de Reabilitação do Hospital Loewenstein, em Israel, testaram a droga em oito pacientes. Sete recuperaram a consciência (um deles morreu posteriormente de um problema não relacionado). Segundo Fridman, um dos efeitos positivos foi que os pacientes não regrediram após o tratamento ser interrompido. Cinco deles melhoraram e já conseguem caminhar, um já consegue até mesmo dirigir sozinho. Fridman publicou alguns desses resultados no Neurotherapeutics em 2007, e também observações sobre um dos pacientes no Brain Injury, em 2009.
Mas pelo fato de que essas observações clínicas não foram estudos duplo-cegos, em que nem os médicos nem os pacientes sabem se os resultados foram obtidos devido a algum placebo ou se realmente a droga teve efeito, Fridman atualmente está iniciando um estudo clínico formal com um total de 76 pacientes. A apomorfina será ministrada entre um e quatro meses após uma lesão cerebral traumática, e as doses serão distribuídas ao longo de várias semanas, entre períodos de 12 horas. Alguns pacientes receberão medicamentos e outros serão controle.
O estudo está sendo patrocinado pela Neurohealing Pharmaceuticals, baseada em Boston, com um financiamento inicial da FDA por meio de um fundo para “droga-órfã” (produto farmacêutico desenvolvido para alguma condição rara). A conclusão está prevista para ainda este ano, embora seja mais provável que seja concluída apenas em 2011, segundo o presidente do Neurohealing, Daniel Katzman.
A apomorfina deixou de ser utilizada no tratamento de Parkinson, pois a droga deve ser injetada, o que tornava menos prático para as pessoas com tremores. Além disso, pode causar náuseas. Mas Fridman diz que esses problemas não implicam em nada com pacientes em estado vegetativo e de mínima consciência. É também mais fácil dar-lhes doses controladas durante muitas horas.
Essa não é a única droga a ser pesquisada dessa forma. Existem alguns estudos em curso com amantadina, originalmente desenvolvida para o tratamento da gripe. No entanto, Fridman escolheu apomorfina, pois seu primeiro grupo de pacientes não responderam a amantadina, levodopa ou outros medicamentos que atuam sobre o sistema de dopamina. Uol Saúde
Esteban Fridman do Hospital Fleni, em Buenos Aires, acredita que o cerne do problema desses pacientes resida na conecção neural. Nesses casos, os axônios estão tão danificados que dificultam o transporte de sinais químicos (neurotransmissão) de neurônio para neurônio. Os axônios são interrompidos quando sofrem pressões como impactos cranianos (quando um lutador é atingido na cabeça ou um motorista bate a cabeça em um acidente de carro).
Como possível tratamento para esses danos, Fridman centrou-se sobre a apomorfina, que se liga aos receptores de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor conhecido por seu papel na doença de Parkinson e faz parte do mecanismo de controle comportamental da excitação e motivação, mas também desempenha um papel em distúrbios de consciência.
Fridman supôs que a apomorfina pode agir no lugar de dopamina, irrigando um cérebro comprometido com um produto químico que possa estimulá-lo o suficiente para reparar as conexões e permitir que pacientes voltem ao estado de consciência. Ele observa que a droga não iria funcionar nos casos em que o cérebro tenha sido privado de oxigênio ou de sangue, pois os danos seriam mais profundos. Terri Schiavo, moradora da Flórida cujo caso gerou uma polêmica nacional que atingiu o pico em 2005 (quando faleceu), estava em um estado vegetativo desde 1990 causado por esse mesmo tipo de lesão.
Fridman escolheu a apomorfina porque ela atinge diretamente os receptores de dopamina no cérebro, mesmo que a capacidade do próprio corpo para fazer a neurotransmissão esteja danificada. A apomorfina também se liga a vários tipos de receptores de dopamina. Algumas outras drogas, como a levodopa (L-dopa), são convertidas em dopamina pelo organismo (em vez de agirem diretamente sobre os receptores). Por isso, esse mecanismo de conversão faz com que essas drogas sejam menos úteis. Outras drogas, como a amantadina, aumentam a produção celular de dopamina, mas se essas células forem danificadas ou se tornarem menos ativas, só poderão ser produzidas até certo momento. Algumas outras se ligam apenas aos receptores determinados de dopamina.
Em 2004, Fridman tentou usar apomorfina em um paciente que estava em um estado de consciência mínima há 104 dias. Depois que a droga foi utilizada, a mãe do paciente telefonou para Fridman para lhe dizer que seu filho tinha acordado apenas 24 horas depois do uso da droga.
Ao longo dos anos, Fridman e seu colega Ben Zion Krimchansky, do Centro de Reabilitação do Hospital Loewenstein, em Israel, testaram a droga em oito pacientes. Sete recuperaram a consciência (um deles morreu posteriormente de um problema não relacionado). Segundo Fridman, um dos efeitos positivos foi que os pacientes não regrediram após o tratamento ser interrompido. Cinco deles melhoraram e já conseguem caminhar, um já consegue até mesmo dirigir sozinho. Fridman publicou alguns desses resultados no Neurotherapeutics em 2007, e também observações sobre um dos pacientes no Brain Injury, em 2009.
Mas pelo fato de que essas observações clínicas não foram estudos duplo-cegos, em que nem os médicos nem os pacientes sabem se os resultados foram obtidos devido a algum placebo ou se realmente a droga teve efeito, Fridman atualmente está iniciando um estudo clínico formal com um total de 76 pacientes. A apomorfina será ministrada entre um e quatro meses após uma lesão cerebral traumática, e as doses serão distribuídas ao longo de várias semanas, entre períodos de 12 horas. Alguns pacientes receberão medicamentos e outros serão controle.
O estudo está sendo patrocinado pela Neurohealing Pharmaceuticals, baseada em Boston, com um financiamento inicial da FDA por meio de um fundo para “droga-órfã” (produto farmacêutico desenvolvido para alguma condição rara). A conclusão está prevista para ainda este ano, embora seja mais provável que seja concluída apenas em 2011, segundo o presidente do Neurohealing, Daniel Katzman.
A apomorfina deixou de ser utilizada no tratamento de Parkinson, pois a droga deve ser injetada, o que tornava menos prático para as pessoas com tremores. Além disso, pode causar náuseas. Mas Fridman diz que esses problemas não implicam em nada com pacientes em estado vegetativo e de mínima consciência. É também mais fácil dar-lhes doses controladas durante muitas horas.
Essa não é a única droga a ser pesquisada dessa forma. Existem alguns estudos em curso com amantadina, originalmente desenvolvida para o tratamento da gripe. No entanto, Fridman escolheu apomorfina, pois seu primeiro grupo de pacientes não responderam a amantadina, levodopa ou outros medicamentos que atuam sobre o sistema de dopamina. Uol Saúde