terça-feira, 29 de junho de 2010

A ciência ensina o que fazer no dia a dia para que o sexo seja ótimo aos 20, 30, 40, 50, 60...

Médicos e cartomantes compartilham uma velha obsessão: prever, cada um à sua maneira, o futuro da vida alheia. Nas cartas, o tarô busca apontar quando aparecerá a tão sonhada cara-metade. Por meio de análises rigorosas, a ciência sabe predizer, agora, até quando uma pessoa se exercitará sobre a cama — com a sua cara-metade ou não. Um trabalho da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, acompanhou mais de 6 mil homens e mulheres de 25 a 85 anos para formular um novo índice, a expectativa de vida sexual. A questão é que, diferentemente de um grande amor, que parece ser providenciado pelo destino, o porvir entre as quatro paredes do quarto depende, e muito, dos nossos hábitos.

“Observamos que um organismo pobre em saúde também sofre um bom abatimento da atividade sexual”, diz Natalia Gavrilova, uma das responsáveis pelo estudo. Isso significa que as pessoas seduzidas pelo sedentarismo, pela privação de sono ou por uma dieta gordurosa estão antecipando sua aposentadoria em matéria de diversão a dois. “À terceira década de vida, homens com um estado geral deficitário terão mais 30 anos de relações sexuais intensas, enquanto os sadios apresentarão no mínimo mais 37 anos”, revela Natalia. Não é diferente com as mulheres. As saudáveis ganham quase cinco anos extras de muito, muito prazer.

É inevitável que, em meio a esses achados, a gente toque em um assunto: seria então o envelhecimento um obstáculo ao sexo? “O problema não é a idade em si, mas as doenças que costumam aparecer com ela”, avalia a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Por isso, é preciso coibir desde cedo os fatores que desencadeiam obesidade, hipertensão...

A pesquisa americana aponta que a ala masculina, embora viva menos, desfruta por mais tempo das relações sexuais. “Diversamente dos homens, as mulheres enfrentam a derrocada dos hormônios com a menopausa, o que afeta a libido, a lubrificação vaginal e a vaidade”, justifica a ginecologista Carolina Carvalho, da Universidade Federal de São Paulo. Mas nenhum marmanjo deve sair por aí cantando de galo. “O estudo também mostra que os homens perdem muitos anos de vida sexual devido a doenças crônicas, como males cardiovasculares e diabete”, alerta Otto Chaves, chefe do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia.

Pelas preliminares desta reportagem já dá para sentir que a expectativa de vida sexual espelha, na realidade, nossos hábitos. Quem não fuma e foge dos abusos alcoólicos, por exemplo, sai por cima. A seguir você confere por que suar a camisa, afastar o estresse ou dormir bem também faz toda a diferença para manter-se na ativa por anos e anos.

EXERCÍCIO FÍSICO
Caminhar, correr, nadar, andar de bicicleta... Escolha uma modalidade ou combine todas elas e você irá ganhar um bônus: uma vida sexual bem mais quente. A ciência já tomou nota de que a atividade física previne problemas que amolecem o rala e rola. A começar pelo combate da obesidade, que dificulta as relações a dois. “Os exercícios ainda melhoram a circulação do corpo inteiro”, diz o cardiologista Carlos Serrano, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Assim, com o fluxo sanguíneo livre, o pênis não pena tanto para conquistar e manter as ereções e a vagina consegue ficar lubrificada com mais facilidade.

ALIMENTAÇÃO
A disposição na cama é influenciada por aquilo que você bota no prato. Maneire nos alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, que, com o tempo, atrapalham a viagem do sangue à região genital, algo fundamental para a excitação. Certos nutrientes, ao contrário, são muito bem-vindos. “O zinco dos frutos do mar, a vitamina E dos óleos vegetais e a proteína, de preferência de carnes magras, participam da formação dos hormônios sexuais que interferem no desejo e no prazer”, lista Vanderlí Marchiori, secretária-geral da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva. Claro que nenhum alimento sozinho faz milagre — nem adianta se esbaldar com amendoim, ovo de codorna.... “Também vale evitar excessos à mesa antes de transar”, lembra Vanderlí.

SAÚDE MENTAL
Quer o nome do maior inimigo do sexo? Estresse. “Sob tensão liberamos hormônios que reduzem à beça o apetite sexual”, avisa o psiquiatra Alexandre Saadeh, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “É preciso localizar o foco do estresse para enfrentá-lo.” Manter a autoestima também é primordial — sobretudo para o sexo feminino, mais vaidoso por natureza. “Na mulher experiente, o bem-estar emocional pode compensar as perdas fisiológicas”, afirma a psicóloga especialista em sexualidade Cida Lessa, de São Paulo.

SONO
A cama de um casal feliz demanda momentos de folia, mas também requer muitas horas de paz. Estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo apontam que a privação de sono — seja porque o sujeito briga contra o cansaço, seja porque têm insônia patológica pra valer — arruína o desempenho sexual. “Para os homens, dormir mal altera a concentração de testosterona, aumentando a fadiga e o risco de disfunção erétil”, conta a biomédica Monica Andersen, que investiga o assunto. Para as mulheres, há indícios de que fugir do travesseiro também repercute sobre a libido. Portanto, identificar distúrbios como a apneia e a própria insônia é pré-requisito para dormir e transar numa boa

CHECKUP
O médico, independentemente da sua especialidade, é um dos principais aliados de uma vida sexual lá em cima. “É fundamental que o homem se submeta a exames periódicos”, defende o urologista Otto Chaves. Uma visita ao consultório pode flagrar colesterol nas alturas, problemas na próstata, enfim, situações que sabotam a saúde do pênis. Entre as mulheres, o checkup ginecológico vistoria se tudo está em ordem, acusando, por exemplo, se não há infecções capazes de provocar dor na hora agá, sem deixar relaxar nem gozar.

É um círculo vicioso, ou melhor, prazeroso. Quem está saudável faz sexo por mais tempo, e o sexo, por sua vez, deixa o corpo mais saudável. Claro que, ao juntar dois seres humanos, as coisas nunca são simples — por mais casual ou fugaz que pareça um encontro. A grande fonte de deleite da humanidade exige seus próprios cuidados. O leitor apressado talvez queira adivinhar: lá vem aquela conversa destinada aos jovens de que é preciso usar preservativo. Acertou pela metade. Sim, a camisinha é necessária, só que não apenas à moçada. Pesquisas recentes comprovam que a incidência de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a aids, cresce sobretudo entre as pessoas com mais de 40 anos. Um recente estudo da Agência de Proteção à Saúde do Reino Unido atesta que, nessa gente, dobraram os casos de sífilis, gonorreia e companhia de 1996 para cá — e no Brasil não é diferente.

O que explicaria esse fenômeno? Parte da resposta está na popularização e no uso indiscriminado das drogas contra a disfunção erétil, que prolongaram a vida sexual de parceiros maduros. E a segunda parcela de culpa é apontada pelo geriatra Venceslau Coelho, do Hospital Sírio- Libanês, em São Paulo. “Os mais velhos ainda não se habituaram a utilizar o preservativo”, constata. “Muita gente inicia um novo relacionamento na maturidade e ignora a camisinha”, completa o ginecologista Edilson Ogeda, do Hospital Samaritano, também na capital paulista.

A solução para esse cenário, que transforma o sexo em vilão, justamente o oposto do que pregamos até aqui, estaria na conscientização de que não há idade para deixar de vestir o preservativo, sobretudo quando não existe um companheiro fixo no pedaço. “Por mais careta que possa parecer, quanto menos parceiros alguém tiver, menor o risco de doenças transmitidas sexualmente”, diz Ogeda. Aos casados, namorados ou solteiros convictos, fica o convite para se cuidar e garantir um longo e vibrante futuro sexual pela frente.

Diogo Sponchiato /Saúde Abril