quinta-feira, 4 de março de 2010

Diabetes gestacional: tudo o que você precisa saber sobre essa doença

Um novo estudo revela que o número de mulheres que desenvolvem a doença pode ser, na verdade, o dobro. Entenda o que é a doença e por que o tratamento até em casos leves é fundamental para a saúde da mãe e do bebê.

Mesmo que você ache que não corre o risco de desenvolver diabetes durante a gestação, fique atenta: dados de uma pesquisa publicada pela Diabetes Care, jornal do American Diabetes Association, mostram que o problema está longe do controle ideal e o que parecia seguro não é completamente.

Organizado pela Escola Feinberg de Medicina, da Northewestern University, o estudo analisou 23 mil mulheres em nove países diferentes e concluiu que, diferente do que apontavam os números anteriores (8%), 16% ou mais das gestantes desenvolvem diabetes durante a gravidez: o dobro!

A pesquisa tem o intuito de reavaliar os níveis de açúcar no sangue da gestante até então tidos como seguros. “Estamos tentando saber qual é o nível necessário para um diagnóstico. Será que ele tem que ser tão alto mesmo?”, comenta Boyd Metzger, especialista em Metabolismo e Nutrição pela Northwestern University.

Cathy Moulton, responsável pelo atendimento na Diabetes UK – uma das organizações parceiras da pesquisa, na Inglaterra, explica que o novo estudo mostra que não foi a quantidade de açúcar que mudou, mas que os métodos e avaliações foram aperfeiçoados e agora mostram resultados mais confiáveis. “Sendo assim, duas ou três vezes mais mulheres grávidas poderão ser, a partir de agora, diagnosticadas com diabetes”, conta.

São inúmeros os benefícios que o diagnóstico correto da diabetes gestacional pode trazer às mulheres. Acompanhando esta nova perspectiva já há algum tempo, Paulo Miranda, endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de Minas Gerais, membro da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica como esse resultado internacional pode, efetivamente, afetar as gestantes aqui no Brasil. “A diabetes gestacional pode trazer muitos riscos à saúde tanto do bebê, como da gestante. Existem diversos critérios usados para que se possa afirmar a existência da condição. Esses novos dados vêm na tentativa de unificar esses métodos para que possamos, mediante essas alterações, realizar o diagnóstico de maneira mais fácil e benéfica. Uma mulher que tenha diabetes gestacional, mesmo que leve, pode vir a desenvolver diabetes em um momento futuro de sua vida. Com níveis mais baixos e alerta dado, podemos prevenir problemas futuros mais facilmente”, afirma.

Principais fatores
As causas da diabetes gestacional ainda são desconhecidas, mas acredita-se que certos hormônios produzidos pela placenta possam bloquear a produção de insulina, substância que equilibra o açúcar no organismo.

A falta de insulina impede a eliminação do açúcar e eleva o nível de glicose no sangue, trazendo risco de aborto e de pré-eclâmpsia. Antecedentes familiares, ter tido um bebê com mais de 4 quilos ou engravidar acima do peso estão entre os fatores de risco para desenvolver a diabetes gestacional. Além disso, os médicos consideram que mulheres com mais de 35 anos têm maior propensão à doença por conta de alterações na placenta. Até sangramentos na gengiva merecem atenção. Eles podem ser um sinal de que o seu sangue está mais "doce" que o normal. Para entender um pouco mais do assunto, confira outros detalhes:

Tratamento
Ele é essencial para não prejudicar o bebê. Pesquisas sugerem que bebês que nascem com sobrepeso, por conta da diabetes não controlada da mãe, têm mais risco de ter a doença na infância e desenvolver a diabetes tipo 2.

A mulher que tem diabetes gestacional terá de aumentar as visitas ao médico: no início, a cada três semanas; depois da 28ª semana, a cada duas semanas; e a partir da 36ª, toda semana. Até as formas mais leves de diabetes gestacional devem ser tratadas, beneficiando mãe e filho. É o que mostrou um estudo publicado no The New England Journal of Medicine.

Para a pesquisa foram analisadas 958 mulheres com a doença leve. Metade recebeu tratamento e a outra seguiu com o pré-natal habitual. O resultado revelou que aquelas que foram tratadas tinham 50% menos chance de ter um bebê com excesso de peso e menos risco de ter pré-eclâmpsia e parto cesárea.

Normalmente, o controle da diabetes acontece por meio da alimentação. O que não significa apenas cortar docinhos e barras de chocolate, mas também reduzir a porção de carboidratos, que se transformam em açúcar no sangue. Em geral, aumenta-se a quantidade de proteínas ingeridas e de refeições: de seis a sete por dia. Praticar alguma atividade física também é recomendado. O excesso de glicose é usado como energia para o exercício.

Preciso de insulina?
São poucos os casos, mas algumas mães necessitam de aplicação diária de insulina. No estudo americano, das mulheres tratadas, apenas 7% tiveram de usar a medicação. Estas, no entanto, precisam fazer um controle rígido da glicemia, cerca de duas a três vezes por dia. Existem medidores digitais, bem fáceis de usar e com a necessidade de uma única gota de sangue.

Após o parto: como evitar o problema no futuro
Estudos indicam que 50% das mulheres que tiveram diabetes gestacional desenvolvem a doença de seis a oito anos após a gravidez. Existem medidas simples que podem evitar isso. Uma pesquisa chamada DPP (Diabetes Prevention Program) avaliou as mudanças do estilo de vida nas pessoas. O grupo que conseguiu melhorar a alimentação e praticar uma atividade física com regularidade não desenvolveu diabetes. “A questão é que mudar os hábitos é uma das principais dificuldades das pessoas”’, diz o endocrinologista Luiz Turatti. Crescer